Silêncio~Primal

Silêncio~Primal
Lendo...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Justiça por Recompensa

Que se foda
a situação toda!

Agora cala a boca e fala!
Cadê a droga? cadê a grana?
Cadê a droga da carta?
Cadê a droga? cadê a grana?
Cadê a droga da mala?
Cadê a droga? cadê a grana?
Cadê a droga do mapa?
Vê se não me enrola, cara!
Cadê?
Cadê você?

Ô vagabundo que dá trabalho!
Cadê aquela camisola cor-de-rosa?
Fala, porra do caralho!
Até que você tem uma bundinha gostosa...

Se você não falar
eu vou trepar na sua mãe
na frente do seu pai, cumpadi.
Se você não falar
eu vou foder a sua irmã
em cima da pia, meu chapa.
Se você não falar
eu vou comer sua mulher
que nem
papinha de nenem.
Se você não falar
eu vou fazer um filho
na sua filha,
eu vou foder direitinho
você e a sua família.

Quê que foi?
O gato comeu a sua língua,
seu íngua?!

DERSU UZALA!!!
KOYAANISQATSI!!!
YOKNAPATAWPHA!!!

Globanalização

orientação oriental
acidente ocidental
fundo monetário internacional
nova ordem mundial
greve geral
desigual = desigual
aldeia globaldeia global

Frios e Latrocínios

FILHO COME A MÃE
corta em pedacinhos
cozinha na panela de pressão
e papa
APOSENTADO MATA A FAMÍLIA
e vai pro cinema
ver o sol nascer quadrado
FILHO MATA O PAI
e casa com a mãe
do pai
DETETIVE PARTICULAR DESCOBRE
o amante da mulher
e mata o cachorro
a dentadas
MARIDO TRAÍDO
experimenta a dor e o prazer
proporcionado à sua mulher
por seu cavalo
MÃE MATA OS FILHOS
por não aguentar mais
o choro das crias
MENINO SE ATIRA DO DÉCIMO ANDAR
com um pirocóptero
na mão
ZZZzzz zzzzzz z z z zzzzz zzz z z zz z

Fora de Série - Parte II

o produtor produz o consumidor
o consumidor consome o produtor
o produto produz o consumo
o consumo consome o produto

o produtor consome o consumidor
o consumidor produz o produtor
o produto consome o consumo
o consumo produz o produto

o produtor consome o produtor
o consumidor produz o consumidor
o produto consome o produto
o consumo produz o consumo

o produtor produz o produtor
o consumidor consome o consumidor
o produto produz o produto
o consumo consome o consumo

= a arte oficial é artificial =

Favela S.A.

A fumaça abafa o pôr-do-sol ingênuo
atrás de prédios
tomando conta
enquanto isso
do outro lado do muro do dono
nós resistimos a tudo.

Mas apesar dos pesares
e apesar de tudo
- sigilo absoluto!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Submergentes


Espírito de porco
não é nada.
Foda mesmo
é a pobreza de espírito!

O pobre é
o que lhe cabe.
O rico é
o que se sabe.
E todos são
insanos
quando convém.

Só o espírito de porco entende
o espírito da coisa
: o espírito-de-porco-da-coisa!

É o Fim

Os fins justificam os meios
quando os começos
não se justificam.

Em Cima do Muro

De que lado você está
: do lado certo
ou do lado da maioria?

Eleições

à direita de quem vai
à esquerda de quem vem
colarinhos sujos
nas ruas
nos postes
nos muros
em outdoors
sorrisos pornográficos
em fotos de santinhos

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Dos Escritórios às Avenidas


O edifícios são tão tristes...
Os edifícios são muito difíceis!
E aquele pobre casebre de pau-a-pique
é tanto quanto também.
O edifícios são mesmo tristes
pois são retos, duros e necessários.
Estas estátuas de árvores
formam florestas e florestas
de flores, folhas, frutos e
formigas de papel.

Do Contra³

Ser contra a tradição
já é outra tradição
: daí a contradição!

Deveres Desumanos

Não me comovo.
Pau no cu
da ararinha azul!
Eu quero é ovo!

A Lei do Homem rege um mundo sem leis.

E eis que aqui está escrito
: propaganda política é propaganda enganosa
e onde lê-se: Horário Eleitoral Humorístico,
violência gratuita, agora está escrito.
Congresso não rima com Progresso
se o direito ao voto é obrigatório.
Assim está escrito.

De braços cruzados - de bruços no chão!

E eis que aqui está escrito
: o bonito é ser feio
ou quem só tira foto não fica feio na foto
e onde lê-se: o papel da imprensa marrom
não serve nem pra limpar a bunda, agora está escrito
: a arte retrata a miséria humana só para leigos
e uma imagem vale mais do que 15 minutos de cama.
Assim está escrito.

Como ter modos diante de um mundo disforme?

E eis que aqui está escrito
: nada mais lúdico do que o R$,
pois o lúdico ilude e o ilusório aliena
e onde lê-se: a alienação é a base de todo
sofrimento humano, agora está escrito: nos outdoors,
automóveis e modelos ocultam favelas de concreto
onde meninas de 11 anos menstruam fetos.
Assim está escrito.

Viadutos para os desabrigados!

E eis que aqui está escrito
: o povo é solidário e a elite, caridosa
e onde lê-se: o povo precisa de um atirador de elite,
burguês tem que morrer no ninho,
agora está escrito: sem essa de final feliz
que eu não morro sempre.
O contentamento é a única unanimidade.
Assim está escrito.

Felizes são os chucros!

E eis que aqui está escrito
: se existisse moradia não existia Febem
e onde lê-se: quem fez faculdade tá comendo merda
e quem não fez, não tem merda pra comer,
agora está escrito: pra quem tem o mundo nas mãos
e uma garganta rouca e louca para gritar,
como se sentir impotente diante da tv?
Assim está escrito.

O Grande Onan vai dominar o Mundo!

E eis que aqui está escrito
: confio mais no meu medo do que na tua coragem
e onde lê-se: à merda com toda essa droga
e à merda com tudo isso agora, está escrito:
todo mundo se mata, todo mundo é vivo.
Assim está escrito.

A condição humana é servidão!

E eis que aqui está escrito
: eis a arte de simplificar o inexplicável
- a revolução particular do poeta -
e onde lê-se: os ricos matam os pobres e os pobres
matam os ricos, agora está escrito:
o meu ouvido não tem paredes. Sim!
Assim está escrito.

O que é de todos não se divide.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Nego

Dizem as más línguas
e as más línguas não mentem
mas eu nego todas as acusações
negonegoerenego todas as acusações
acusações são sempre negativas

Desnatureza-Viva



A aldeia e
a ponte e
os moinhos e
os ciprestes e
os trigais e
os corvos e
o café e
o quarto e
os girassóis e
as cartas e
as putas e
o doutor e
o amigo e
o irmão e
o auto-retrato
da orelha amarela de Vincent
em exposição.



Pisante

a pé
até
agora e depois

o carro na frente dos bois

café
com leite pão
com manteiga feijão
com arroz

pé um pé dois
pé um pé dois

na planta do pé
o pé da planta
fingido é
o que se espanta

de antemão
pé ante pé
de pé
no chão

nas nuvens não

nananinané
nananinanão

Custo de Vida

O custo
de vida
é a medida
do justo.

O custo
de vida
é o justo
sob medida.

O custo
de vida
é a medida
do justo,
do justo
sob medida.

Crime & Paz Guerra & Castigo


Do conjunto habitacional
à Casa de Detenção,
em cadeia nacional
: quem é polícia? quem é ladrão?

Contém Glúteo

A palavra de ordem é Foda-se!
Foda-se é palavra de progresso!
Vão cagar!
Vão à merda!
Acabou a comida!
Comer merda!
Cagar merda!
A ordem é esta
: comer merda,
cagar merda!
E isso assim sucessivamente...
Comer merda até cagar merda
e comer merda
novamente!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Parodiano 'Doniran


Você é um homem ou um rato?
Um rato ou um saco de batata?
Seu barraco num barranco,
o barranco num buraco,
o buraco é uma caixinha de fósfro.
Sua condução, sem condições
: lata de sardinha.
Sua condução é da pesada
: o dedão saltando fora.
Da quebrada ao centro
ratos em caixinhas de frósfo,
sacos de batata em latas de sardinha.
Ratos e sacos de batata
das caixinhas de fórsfi
direto para latas de sardinha.
Você é um homem, um rato
ou um saco de potato?
Você é um herói,
o meu anti-herói...




Cadeia Elementar

o tom do som que sai e sôa à toa
um som agudo agradável e belo
o tom do som que sai do bico da andorinha
num galho duma árvore dentro do ninho

o tom do som que sai e sôa à toa
o som do bico que sai de dentro do ninho

o tom do som que sai e sôa à toa
um som grave que arrepia o corpo inteiro
o tom do som que sai da bocarra do tigre
sob as rochas úmidas da montanha gelada

o tom do som que sai e sôa à toa
o som da bocarra que sai de dentro da toca

não importa
basta entrar no olho da mira
pra ser a caça
o caçador engatilha atira e mata

o tom do som que sai e sôa à toa
agora não é mais por fome

Besouro Bizarro

Aqui relva com água
nunca caga catarro.
Aqui terra com água
não alaga mais barro.
Aqui pedra com água
nunca bate mas fura.
Aqui merda com água
não vira pasta impura.

EU JURO QUE EU
NÃO DISSE NADA

De cima do viaduto
escarram catarro
em riba dos carros.

De cima do viaduto
espirram esporra
em riba dos carros.

De cima do viaduto
mijam e cagam
em riba dos carros.

E o carro que morre.
E o magro que corre.
E o carro que corre.
E o magro que morre.

Banquete dos Mendigos

Galinha preta
ao molho pardo
na encruzilhada.

Sopa de Letrinhas

Não quero reclamar um poema
que desperdíce lágrimas.
Não posso declamar um poema
com derramamento de sangue.

Lugar de lixo é nas caixas do correio!

O mundo já não é mais
povoado por flores e borboletas multicoloridas
no jardim de uma linda camponesinha
com seu vestido rodado e florido,
chapéu de abas longas para a primavera
e leves sandálias, dançando inocentes cantigas de roda,
a balançar uma cesta de frutas
na colina verde do vale encantado...

O mundo é que não é mais
povoado por borboletas e flores muiticolores
naquele jardim daquela camponesinha
agora com seu vestido rasgado e curtido,
o chapéu usado como penico de soldado,
as gastas sandálias e ingênuas cantigas de roda aborrecidas,
assim como a cesta de bagaços
na área minada do campo de batalha.

Impossível poesia pós-Holocausto?
Então toma!

Cabeça de bagre
esperando um milagre.
Cabeça de vento
livre de pensamento.
Cabeça de anjo
de boca no marmanjo.

Cérebro de formiga
: estamos quitestamos quites.
Cérebro de macaco
: estamos quitestamos quites.
Cérebros abortados
: sanduíches de Auschwitz.

Sangue nas palavras,
sangue nas cartas,
sangue nos olhos,
sangue de barata e mais sangue
escorrendo pelos cantos da boca e pelo nariz,
saindo por todos os poros e de olhos calados pelo choro,
de suas unhas cheias de terra e de merda
e de suas mãozinhas marcadas pelo desespero.

Olhos vendados para hinos patrióticos
de cães de guerra e manifestações.
Agora ela é só mais um ventre sujo...
- A morte liberta, criança!
Mas depois da tempestade vem a ambulância
e um refugiado que, ao vê-la caída, gemendo,
limpa abostadabota em seu rosto e segue
mancando/ marchando! manchando...

JOVEM
ao completar 18 anos
aliste-se e aprenda
camaradagem, disciplina e respeito
para obter licença para matar
crianças e estuprar mulheres
em caso de guerra ou levante civil.

A fauna aflora e a gente tenta, tenta,
tenta à vontade,
mas a poesia nunca será mais violenta
que a realidade.

Geração X

guardei o rolex
no marmitex
passei lubrax
no jontex
enfiei tampax
no rex
cheguei ao clímax
no box
passei um fax
depois ajax
achei o max
o denorex
coloquei durepox
no duralex
passei durex
no sax
tirei xerox
do tex
jantei inox
com pirex
passei látex
no gálax
espirrei antrax
no fedex
e ganhei um tórax
mais sexy

Variações Sobre a Mesma Teima

i.
Deitado na cama
fumando no escuro.
Sem coberta e com frio,
coberto e com calor.
Baforando zeros do vazio
interior.

ii.
Eu
no centro da capital
e o interior
dentro de mim.

iii.
O tédio do interior
ou o tédio da cidade?
O tédio é interior
no campo ou na cidade.

O tédio é solidão.
O tédio é multidão.

O tédio do interior
ou o tédio da cidade?
O tédio é interior
em qualquer localidade.

Na praia ou no deserto
tão longe, tão perto.

PS.

eu não tenho escolha
eu não tenho saída
é folha e mais folha
resumindo minha vida

Palha no Agulheiro

não sou o coadjuvante
nem o protagonista
sou um mero figurante
à perder de v i s t a

Eclipses

eu não sou de lua
eu não sou de sol
não entro na sua
eu sou c a r a c o l

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Último Fim

Sinto-me
como um cãozinho fechado dentro de uma caixa trancafiada...
como um cavaleiro valente que sem a sua espada não é nada...
como um relógio de bolso parado e perdido no tempo...
como os espectros que se comunicam através do vento...
Sinto-me
como um trilho sem trens tomado pelo matagal...
como uma andorinha levada pelo temporal...
como um corredor prostrado em sua imensa escuridão...
como uma árvore sem ninhos e folhas e pássaros em pleno verão...
Sinto-me
como uma velha ponte abandonada sobre um rio...
como um recém-nascido recém exposto ao frio...
como uma porta sem passado...
como ter ido sem ter sequer chegado...
Sinto-me
como um serrote banguelo...
como aquele que perde a donzela em um duelo...
como o último delírio do Universo...
como num pesadelo perverso...
Sinto-me
como um peixe içado por um anzol...
como um presidiário sem banho de sol...
Sinto muito, mas sinto-me assim
: meu eu é eunuco diante de mim................................................
Sinto-me
terno
e eterno!
E o meu coração sempre foi meu
eu...
Meu erro...
Meu berro!

Quintessência

Não me deixo levar
pelo que os outros pensam
a meu respeito
: se falam mal,
não ligo; se falam bem
- desconfio.

Difícil conhecer
a si mesmo,
quanto mais o outro
se o mesmo
não se conhece.

Tédio e Melancolia

Só eu sei o que é solidão.
Só eu sei o que é estar só.
Eu não sou eu não.
E isso eu já sei de cor
: o que é dor
e o que é dó.
Mas eu clamo por tão pouco
: ver sem ser visto,
estar fora de foco
- só isto!

Subordinado ao Caos

O sol do Novo Mundo
não aquece a escuridão.
O sol do Novo Mundo não cega.
O sol do Novo Mundo
é o sol da meia-noite.
Eu sou da meia-noite!

O sol da meia-noite
não foi feito de fogo.
O sol da meia-noite é cego.
O sol da meia-noite
é o sol do Novo Mundo.
Eu saúdo o Novo Mundo!

Sina Assassina

Eu não nasci
aqui.
Eu nuca mais estarei namesmamesa de parto
do mesmo quarto.
A vida que eu vivo
vai pro arquivo.
Assim
a sina assassina sim!

Sexta-Feira XIII


Gato preto
quebrando espelho
embaixo da escada.
Sete vidas e
sete anos de azar
: noves fora nada.

Língua de Iguana


Dormir no escuro
e acordar com frio.
Dormir e acordar,
dormir pra acordar
- no duro no duro -
dentro do rio.

Dormir com medo
e acordar sozinho.
Dormir e acordar,
dormir pra acordar
- bem cedo bem cedo -
dentro do ninho.

Dormir fedido
e acordar nu.
Dormir e acordar,
dormir pra acordar
- perdido perdido -
dentro do azul.

Lavando a Alma

Cheiro de terra.
Cheiro de chuva.
Cheiro de terra batida de chuva.
Terra vermelha.
Chuva assentando poeira.

Rei na Barriga

Nariz empinado
termina com torcicolo
ou pisando na merda.

Quiproquó Rococó

Obrigado por me receber
mas eu não posso esperar.
Quem só fala, não diz
e quem diz tudo
deixa a desejar.

Previsão do Tempo

Quando o tempo
fecha, é melhor pedir um tempo
para dar tempo
ao tempo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Presságio

Do alto da montanha mais alta
um menino lança seu grito ao nada.
E o grito e o vento se acasalam.
E do grito e do vento nasce o eco.
O eco veio menino menino
e foi subindo...
O eco
veio menino
e foi sumindo sumindo...

Pianíssimo

quebrou a minha máquina de crer
quebrou a minha máquina de ver
quebrou a minha máquina de escrever

Pescaria

O peixe nada
e nada de peixe.

Perdão Versus Vingança

De peito aberto
a plenos pulmões
De ponta cabeça
a teus pés
De mãos dadas
ao deus-dará
De vento em popa
ao léu
Essa chuva caiu do céu

Pasto no Morro e Morro no Pasto

Somos muitos e sós
- sós e mal acompanhados.

Ovelhas desgarradas
formam rebanhos de
ovelhas desgarradas.

Hora Extra


já não tenho mais olhos para o belo
meu tudo está fechado para quaisquer novas descobertas
sou um ancião ocioso caindo no abismo
e invejo a sua juventude
e a sua saúde

já não tenho mais sonhos nem vontades
meu tudo está fechado para balanço e sem reforma
sou um ancião ocioso no forno do inferno
e invejo a sua imagem
e a sua coragem

já não tenho mais nada além de rugas
meu tudo está fechado fora e muito distante de mim
sou um ancião ocioso no meio do mar
e invejo a sua vida
e a sua subida

já não tenho mais o por que de estar aqui
meu tudo está fechado num mundo que me ultrapassou
sou um ancião ocioso perdendo o fôlego
e invejo a sua alegria
e a sua companhia

já não tenho mais tempo para partir
meu tudo está fechado e é tarde demais para aprender
sou um ancião ocioso e cheio de remorsos
e invejo a sua idade
e a sua vaidade

Bagaços no Abismo

BILTRE
SACRIPANTA
PÂNDEGO
PROXENETA

chute o balde
chute a bola
chute o pau da barraca
chute a resposta

quem ou o quê
pensa que é você
pra me dizer
o que não dizer

crise econômica
crise conjugal
crise criativa
crise existencial

quem sou eu
quem eu sou
eu sou quem
onde estou

oprimidos
reprimidos
deprimidos
comprimidos

salada russa
montanha russa
roleta russa
situação idem

Primaverãoutoninverno


...aves noturnas

pregadas com prendedores...

...aves soturnas

presas por pregadores...

...a voz do vento farfalha as folhas

as folhas farfalham à voz do vento...

: e a voz das flores?

: e o farfalhar do tempo?




sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ouça o Som do Silêncio

Ouça o som
sábio
do silêncio. Ouça o tom.
Mas só ouça-o com
um certo dom.
Ouça o som
fácil
do silêncio. Ouça o tom.
Mas só ouça-o com
um certo dom.
Ouça o som sábio...
Som tom com dom -
SOL!
Ouça o som fácil...
Som tom com dom -
CIO!
Ouça o som do silêncio.
Ouça o som
se
só...

O Mundo é dos Insetos

a mosca é a formiga que criou asas...
a formiga é a mosca de asas cortadas!
você é o quê?
mosca ou formiga?
formiga e mosca?
formiga-mosca?
mosca é formiga?
o quê é você?
dentro ou ao redor do açucareiro,
bato palmas pra você em você.

O Cu do Cúmulo


O cu do cúmulo
não é o óleo (anarco-íris)
do vômito anônimo na avenida.
O cu do cúmulo
não é a trilha sonora de banheiro.
O cu do cúmulo
não são as lembranças
no porão da memória.
O cu do cúmulo
não são as imensas olheiras
do sol.
O cu do cúmulo
é morrer!
Morrer, morrer até cair...

Maroceano

não é o barulho do mar,
são os peixes que estão chorando...
- o que fezes aqui?
vapor.
água. NÃO É O BARULHO DO MAR,
gelo. SÃO OS PEIXES!
água. NÃO É O MARULHO NEM OS MARUJOS.
vapor.
o choro é o xerox
da chuva.
O MARULH O MARULH O MARULH O
não é nada não, marujo.
nada não.
OU QUASE NADA.
o balançar do barco e o bêbado à bordo...
O ENJÔO!!!
...barulho...marulho...mergulho!
PULO
e engulo o oceano...!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Caixote

O caixote
quebrado
jogado
de lado
da barraca
da feira
com os pregos
pregados errados
enferrujados
e a madeira
molhada
toda preta
de podre

Noturno

a noite é mais romântica do que o dia
a noite é mais violenta do que o dia
a noite é muito mais longa do que o dia

a noite é restauradora
para quem repousa
a noite não tem fim
para os insones
e os trabalhadores

à noite todos os gatos são chatos
à noite estamos todos entregues ao demônio

luzes acesas na escuridão
uma sim uma não
uma sim
uma não

no turno noturno tem adicional









Na Natureza Selvagem

O andarilho na trilha
chispa
lagartos ao sol.

Bang Bang Jump


Elemento de alta periculosidade à solta - o ar!

Voar alto
não é passar
dos limites.
O negócio é não
fazer sombra
no chão.

Quem cria raízes não alça vôos
: sonhar acordado
em queda-livre...
sonhar alto
sem pára-quedas!

E a cada vôo rasante
uma queda arrasadora.

Miragem


Nossos sonhos e frustrações
continuam com a chuva.

Nada nem ninguém
dorme como antes.

Algo sim está parado
e isso incomoda.

Vontade e coragem
não andam de mãos dadas.

E nada é mais forte
do que a minha fraqueza.

Não tem poema?
Não tem problema.

Num mar de incertezas,
quem tem razão?

Mary-Marie

Maria sem vergonha
Maria gasolina
Maria mole
Maria fumaça
Maria mijona
Marijuana

Ave Maria no Morro
na casa da Mãe Joana

Mantenha Distância

Eu sou cia ltda.

Maldito Marginal


O maldito marginal
que sofre o cão
e sofre o diabo
ouriça o rabo
com cara de mau.

O marginal maldito
que sofre o cão
e sofre o diabo
recolhe o rabo
e chora bonito.

Simpatia


Papel com nome
em boca de sapo costurada
: fome
saciada.

Competição Desleal

Dia a dia
no pódio
as sementes da discórdia
e os frutos do ódio

Auto-Ajuda


O espinho da rosa
no meio do mato
A espinha do peixe
no canto do prato

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Inimigos do Mundo


O primeiro homem é inimigo do segundo homem
que é inimigo do primeiro homem
que é inimigo da mulher do segundo homem
que é inimiga da mulher do primeiro homem e do 1° homem
que é inimigo da própria mulher
que também o tem como o seu maior rival
nesta noite especial,
tal qual o segundo homem, inimigo do primeiro homem
que é inimigo do segundo homem
que é inimigo da mulher do primeiro homem
que é inimiga da mulher do segundo homem e do 2° homem
que é inimigo da própria mulher
que também o tem como o seu inimigo mortal
nesta noite de Natal.

Conclusão
: eles não se dão.

O inimigo n° 1
quer estourar a champanhe
e quer estourar os miolos,
mas não pode.
A inimiga n° 1
quer cortar o panetone
e quer cortar a garganta,
mas não deve.
Ambos observam da janela
uma estrela
sobre uma imensa árvore de Natal
no outdoor de um prédio comercial
colorindo a cidade como no Carnaval.

Além de Deus há a lei de Deus!

Talheres, nozes e orações;
papais-noéis, presentes e cartões;
e o céu forrado de estrelas e canções...

O rapaz é filho e inimigo do primeiro casal
pois seus pais o tratam como um rebelde sem causa.
A moça é filha e inimiga do segundo casal
pois seus pais a tratam como a ovelha negra da família.

O rapaz não se dá com o sogro e com a sogra
e acredita que se tivesse genro ou nora
não se dariam muito bem.
Sua sorte é que é filho único e ela também.
A moça não se dá com a sogra e com o sogro
e acredita que se tivesse nora ou genro
não se dariam muito bem.
Sua sorte é que é filha única e ele --

Pois bem
: os dois, a moça e o rapaz,
preferiram ficar no cais
admirando os navios ao longe, os pássaros, os fogos (afagos) e os ais,
EM PAZ.
- Daqui para nunca mais!

Desejavam viver outra vida,
mas só encontraram uma saída
à meia-noite no mar...
(Em suas casas - taças a tilintar!)
À meia-noite em algum lugar,
qualquer lugar...

E apesar de tantas
guerras frias e guerras santas,
apesar de sozinhos, alheios a tudo e a todos,
dois jovens renascem na hora do amor,
inimigos do mundo.

Girino de Gente

Girino de sapo
é gente.
A gente já tá perto
da poça mesmo, então
girino de sapo
é gente.

Os sapos também
comem rãs.

Geração Espontânea

Provo
o novo
ovo
do povo

Reprovo
o novo
ovo
do povo

Provo
e reprovo
o ovo

E desaprovo
o ovo
de novo

Gelo em Brasa

O fogo
não afoga.
O fogo afaga.
Fumaça sufoca!

A água
não afaga.
A água afoga.
Chuva evapora!

Funerária & Pintura

A Gioconda e a Ciência de Da Vinci
Os Labirintos e o Macintosh de Escher
Os Ciprestes e a Miséria de Van Gogh
As Putas e as Pernas Curtas de Toulouse
As Ninféias e as Barbas de Monet

Todos das Ruas para a Galeria

As Árvores e os Azulejos de Mondrian
Os Matizes e a Alegria de Viver de Matisse
A Seca e o Carnaval de Portinari
As Fases e os Casamentos de Picasso
Os Grafites e as Drogas de Basquiat

Todos Correndo Atrás da Poesia












terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Garatuja Suja


HA HA HA blablablá HA HA HA

O palhaço é uma criança crescida.

blablablá HA HA HA blablablá

Traduzindo a mais velha melodia

: lágrima de palhaço é gargalhada na certa.


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Frenesi & Barbárie


Cada dia a mais
é o mesmo
que cada dia a menos.
Cada eu é individual
: o bem, o mal e o normal.
Ou tudo ou nada
: o vidro deixa ver,
o vidro cega!
E cada dia a mais
é o mesmo.

Flor de Outono


para Lígia

O domingo de sol prometia calor...
Mas após as notícias o tempo vira
e um frio cortante faz companhia à dor...
- O mundo gira!

Tudo muito de repente
: os parentes mais próximos entram em contato via celular
e o cortejo segue o carro funerário num silêncio sepulcral,
interrompido só uma vez por um cochicho seguido de gargalhada de tia gorda.
Enterro sem velório de caixãozinho branco.
Nascimento prematuro.
Morte prematura.

Tudo assim tão rápido
parece até indolor
: do carro à cova sem a mórbida curiosidade, partilhada por todos,
de apreciar morta quem não foi admirada em vida...
Aqui lamenta-se a dor da perda e não a perda propriamente dita.
Apenas pai e mãe conheceram aquele ser de cinco dias
cheio de tubos e cuidados.

As pessoas morrem.
As pessoas vão ao cemitério.
As pessoas são enterradas.
As pessoas choram e rezam.
As pessoas vão para o céu.
As pessoas voltam para casa
e a vida continua
tímida como árvores no outono...

Ferrugem

Aros enferrujados de bicicleta
contra o muro,
rodas de carriola e pneus murchos e carecas
contra o muro,
guidão e chaleira amassada
contra o muro,
blocos empilhados e madeiras de armário
contra o muro,
sombras das roupas do varal
contra o muro,
broxa e sacola de feira rasgada
contra o muro,
garrafas de cerveja e refrigerante empoeiradas e cheias d'água e baratas
contra o muro,
balde quebrado e ferros de barraca
contra o muro,
cadeira velha dividida em duas e calotas de fusca
contra o muro,
de sol a chuva dia e noite
contra o muro,
ar
contra o muro
e meus olhos...

Estrelas Decadentes


postes rodeados
de insetos fascinados
pelo brilho

aviões furam
a lona negra da noite escura
causando estrelas

Espelho Espelho Nosso de Cada Dia


Às vezes quando erro
reconheço.
Às vezes me arrependo
e esqueço.

O erro sou eu.
O erro mora em mim.
Não preciso de espelho
para refletir.

Esfinge


A máscara
não mostra
nenhum monstro.

A múmia
é o enigma
da pirâmide.

A novidade
não é o desconhecido
: é a descoberta.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Convulsão no 18 Fundos


UM ATAQUE
UM CHILIQUE
UM PERIPAQUE
UM ESTREMELIQUE

não engula
vide-bula

TIQUE-TAQUE
ACHAQUE CHIQUE

Centenário


...um tigre num labirinto de espelhos
tateando às cegas
na Rua Maipú...
Quantos Borges!

Dúvida


Verdade seja dita
: mentir é muito melhor!

Metade de tudo que existe
é falso
e a outra parte,
são meias verdades.

A única verdade absoluta
é a Dúvida.

A Outra Face


O reverso
da moeda
é o troco.

Anjos e Demônios


Eles aquecem
os hormônios
e esquecem
dos neurônios.
Descem
anjos e sobem demônios.

Amigo Secreto

Meu amigo imaginário
não tem um pingo de imaginação.

Amargo e Azedo

Às vezes,
muitas vezes,
quase todas as vezes.
Às vezes o que eu sinto
é o que menos importa.
Às vezes o que eu penso
não vem ao caso.
Às vezes, velho demais
pra minha idade
ou jovem demais
pro meu tamanho.
Às vezes me arrependo
por saber tanto,
outras vezes
por tão pouco.
Às vezes o absoluto
é obsoleto
e o suficiente
não é o bastante.
Às vezes não dá
mas nada surge do nada.
Tudo tem um preço,
às vezes muito alto.
Às vezes alto demais
até a eternidade.

Albinos e Daltônicos

Poema a quatro mãos
com Paulo Cruz
Borboleta amarela...
Estrela preta...
O sol é incerto e a noite, certeza.
O dia é uma noite clara.
A noite é um dia escuro.
E se o dia é uma noite clara...
E se a noite é um dia escuro...
- E o meio-dia?
- E a meia-noite?
A noite cai e o sol se impõe.
Borboleta preta!
Estrela amarela!

A Galope


Eu tenho espora
e ferradura
Eu sou o cavaleiro
e o cavalo
Eu estou montado
em mim mesmo
Trote a galope
trote a galope
O cavalo é a crina
no alto da colina

Afinal de Contas

Não é da minha conta
e nem da sua conta
: brincar de faz-de-conta
ou ficar por conta
é o que conta.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Retrato Abstrato


Retorcido
feito cão e gato,

contorcido
feito gato e rato,

destorcido
feito gato e sapato

: dente indeciso
boceja um sorriso.

Literalmente

Céus!
meus poemas
são problemas
meus!
São maus,
são meus!
: sou eu!

Zero em Algarismo Romano

Quando você não faz diferença,
a menor diferença,
diferença nenhuma,
quem se importa?

: além da concorrência?!

Disputando isopor, caixa de papelão, jornal velho,
lata e saco de lixo, cabeça de boneca...
Disputando espaço à tapas,
socos, chutes e pontapés!

Parar de estudar para trabalhar!
Quem tem dinheiro
não tem tempo pra gastar.

Comer carne crua, carne viva, carne humana,
ser devorado por índios canibais
ou animais selvagens?

: domésticos!

O frio corta!
O seco racha!
Frio e seco
como os dentes e os olhos
devem ser
: homem branco perde os passos...

Tanto faz assim
como tanto fez.
Pouco importa. Quer dizer
: não importa.

É uma pena...
Sem problemas
: o fim é o que menos importa.

Pé de Chinelo


Canivete
ou caixote,
pivete
ou Pixote?

Fernando Ramos da Silva na pedra,
finado ramo na selva de pedra!

A rua é o refúgio do barraco!

Foi encontrado dentro de um saco
e maltratado em qualquer buraco.
Tinha o sonho de tocar cavaco
mas seu negócio era jogar taco.
Num dia de frio afanou um jaco
e na favela é chamado de macaco.
Fuma um bagulho do balacobaco
que torna o dia-a-dia menos opaco.
Pixote - essa é a lei do mais fraco
e vai muito além do mais fraco!

A rua é o refúgio do barraco!

Essa é a lei do mais fraco, Pixote,
e vai muito além do mais fraco
: traga a graxa e o caixote,
mano sem money no pote não dá.
Nada não dá
nada não dá
não dá.
Não dá em nada.

A rua é o refúgio!

Da favela pra Febem
o que é que tem? (não sei se tem)
se a periferia
é maioria!

O refúgio do barraco!

Laranja
pé de chinelo
só manja
do mercado paralelo.

A RU A RU A RU A RU A

Quem matou Pixote
foi o Hector Babenco!
Quem matou Pixote
foi a Marília Pêra!
Quem matou Pixote
foi todo o elenco
da sociedade brasileira!

Perda de Tempo

a vida cronometrada
da concepção ao último suspiro
o tempo nunca está
a nosso favor

a todo vapor

relógio de parede
no bolso
relógio de sol
no pulso
relógio de areia
a prova d'água
rádio-relógio de igreja
galo despertador

no relógio biológico
cheio de nove horas
noves fora nada
meio-dia pras quatro
em ponto

rugas de preocupação

relógio
sem ponteiro da hora
marca minuto
sem ponteiro do minuto
marca hora
sem ponteiro do segundo
encontro marcado

relógio digital
de algarismos romanos
bateria a pilha
relógio da hora

rola o rolex
ralou

relógio atrasado
relógio lento
relógio roubado
dinheiro ao vento
relógio parado
perda de tempo

Mendigo Bêbado

Pombas, pulgas e folhas secas!
Cães, chuvas e moleques sapecas!
O mendigo era médico.
O bêbado, bem de vida.
O mendigo bêbado, que foi rico,
não passa de uma ferida.

O mendigo tinha família.
O bêbado teve um lar.
O mendigo bêbado tem uma filha
que está para se casar.

O mendigo não tem sol.
O bêbado está cercado.
O mendigo bêbado preso no anzol
da sociedade do soldado.
Pombas, pulgas e folhas secas!
Cães, chuvas e moleques sapecas!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Idem Ibdem

Um dia é só um dia com sol ou sem sol
Um dia é só um dia sem lanterna ou farol
Um dia é só um dia é só um dia é só um dia
Ensimesmado na mesma pieguice

A família é a família quando tem dinheiro
A família é a família do bar ao puteiro
A família é a família é a família é a família
Ensimesmada na mesma velhice

A igreja é a igreja em nome do dízimo Amém
A igreja é a igreja Jerusalém Jesus Além
A igreja é a igreja é a igreja é a igreja
Ensimesmada na mesma chatice

A guerra é a guerra remapeando povoados
A guerra é a guerra condecorando aleijados
A guerra é a guerra é a guerra é a guerra
Ensimesmada na mesma imundície

O homem é o homem com sol ou sem sol
O homem é o homem sem lanterna ou farol
O homem é o homem é o homem é o homem
Ensimesmado na mesma mesmice

Formatura

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Eles batizam o eterno,
mas não tem nem como.
Eu abro o meu caderno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de blocos...
A caminho da fábrica de livros...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Blasfemam do inferno,
mas não tem nem como.
Estudo em semi-interno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de modos...
A caminho da fábrica de meninos...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Sugo o sangue materno,
mas não tem nem como.
Guio o carro paterno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de óculos...
A caminho da fábrica de mitos...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Bom é o mercado externo,
mas não tem nem como.
Mancharam o meu terno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de votos...
A caminho da fábrica de vivos...

De mortos-vivos!

Canibais


Almoço com o cão
faminto a meus pés.
Almoço com crianças e mendigos
dormindo nos bancos duros
da vida roubada.
Almoço com o gato sem botas
com as patinhas sangrando
sobre o muro de vidro
intencionado aos ladrões.
Almoço com amulher
de vida fácil? vida difícil!
comer o pão que o país amassou!
Almoço e não penso
que o fio condutor das guerras
só congestiona meu pequeno mundo
já pardo, cinza, sujo, podre, triste,
submundo da fumaça e do entulho,
repleto de ratos, insetos,
vermes e humanóides em geral.
Almoço com a secretária
sendo estuprada pelo patrão
em seu escritório, cheirando
a chantagem e perfume barato.
- Beijos e lágrimas!
Almoço com as centenas
de novas doenças dos cientistas.
Almoço com tudo, tudo lá fora,
tudo do lado de lá
das portas particulares.
Almoço com o pálido silêncio.
Almoço com o espião na janela.
Almoço com um pedacinho de cebola
entalado na minha garganta -
meu único pequeno caos.
Almoço e não lembro.
Almoço tranquilo
e adormeço macio
quando o sono vem.
E sonho gostoso...
Almoço cego
com os canibais!

Cartão-Postal


Bosta! Basta!
Bosta de cavalo!
Basta um nevoeiro
no Morro da Pinguela
pra confundirem com estrelas
as luzes dos barracos da favela.
Você já viu fumaça verde? Então tá!
Assassina aqui e há chacina lá!

Bosta! Basta!
Bosta de cavalo!
Basta só um cheiro
no Morro da Pinguela
pra neguinho ver estrelas
ficando muito louco por tabela.
Você já viu fumaça verde? Ra ra ra!
Há chacina aqui e assassina lá!

A Raspa do Tacho


Os homens dão as cartas.
Os homens voltam para casa.
Os homens fecham a cara.
Os homens vão à caça

enfileirados indianamente
no frigorífico mais próximo.
Carne humana é a fina nata
da mão de obra barata!

Eu só como carne de 2ª
e uso roupa de 2ª mão.
Eu só como carne na 2ª
e no resto da semana não.

Dependurado num gancho
de açougue pela goela,
eu sou a raspa do tacho
no fundo da panela.

Quadrado

o quadrado entrou no outro quadrado



o outro quadrado entrou no quadrado



o quadrado no outro entrou quadrado



entrou no quadrado o outro quadrado



quadrado quadrado quadrado quadrado

Extração


Ao Dr. Carlos Tsoden Ogusuku

Deite-se!

As portas do céu da boca são os dentes!

Por isso cuide bem para que elas,

da noite pro dia

ou numa tarde fria,

não virem janelas.

Eu Por Mim

Eu não combino comigo
Eu não pertenço a mim
Eu não vejo nada em mim
Eu sou o meu maior inimigo

Eu não caso comigo
Eu não preciso de mim
Eu não caibo mais em mim
Eu sou o meu próprio castigo

Eu não colaboro comigo
Eu não choro por mim
Eu não sou páreo para mim
Eu sou um modernista antigo

Eu não pareço comigo
Eu não esqueço de mim
Eu não transito em mim
Eu sou do tamanho do meu umbigo

Eu não sonho comigo
Eu não me escondo de mim
Eu não vivo sem mim
Eu sou um fantasma com vitiligo

Eu não durmo comigo
Eu não estou preso a mim
Eu não separo meu eu de mim
Eu sou o medo e o perigo

Eu não encaixo comigo
Eu não sou tarado por mim
Eu não piso em mim
Eu sou a sombra que sigo

Eu não misturo comigo
Eu não fujo de mim
Eu não me espelho em mim
Eu sou o que sou e nem ligo

Eu não convivo comigo
Eu não me sustento em mim
Eu não me perco de mim
Eu sou tudo o que eu digo

Eu não aprendo comigo
Eu não sou o oposto de mim
Eu não estou acima de mim
Eu sou o joio e o trigo

Escoteiros


Enquanto jovens festejam,
espantando os seus males
cantando livres na noite
sob vaga-lumes distantes
e diante de borrachudos
cobertos de guarda-chuvas
verdes,
formigas fazem um banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: organização faz parte
dos testes de sobrevivência
na mata escura.

Enquanto jovens festejam,
colhendo lenhas e gravetos
atentos com suas lanternas
nas entranhas da floresta
mas próximos às cabanas
cobertas de guarda-chuvas
verdes,
elas fazem um belo banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: solidariedade faz parte
dos testes de sobrevivência
na floresta fechada.

Enquanto jovens festejam,
soltando anjos e demônios
com suas vozes desafinadas
acompanhadas por violões
ao redor de uma fogueira
coberta de guarda-chuvas
verdes,
sozinhas bancam o banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: perigos fazem parte
dos testes de sobrevivência
na selva misteriosa.

Boneca Partida

A menina rega o jardim do vestido
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Montanhas ao sul de mim..."
Janelas sem vistas,
portas sem passado...
Moça debruçada sem q nem porque
na janela escancarada!
Moça debruçada esperando parada
a porta se abrir.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

O céu é um cemitério de estrelas
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Pássaros se vão sem mim..."
Espelhos sem rostos,
tapetes sem passos...
Moça toda dada sem q nem porque
na janela desencantada!
Moça toda dada tão desesperada
não consegue rir.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

A estrela maior amarela a manhã
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Oceanos que saem de mim..."
Tetos sem luzes,
paredes sem retratos...
Moça mal amada sem q nem porque
na janela despedaçada!
Moça mal amada cansando calada
é pular pra sair.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

Spleen

Jogue o meu corpo
numa vala ou no esgoto!
Jogue-o na privada!
Eu sei que eu sou um escroto!

Jogue o meu corpo
num bordel ou no lixão!
Jogue-o na calçada!
Eu sei que eu sou um cão!

Jogue o meu corpo
na Via Dutra ou dum viaduto!
Jogue-o da sacada!
Eu sei que eu sou um bruto!

Jogue o meu corpo
da janela do último andar!
Jogue-o da escada!
Eu sei que eu sou de lascar!

Jogue o meu corpo
num gancho de açougue!
Jogue-o à manada!
Eu não sou eu nada! Jogue!

Sábado de Aleluia

Aos corvos devorando
espantalho enforcado na árvore
é preciso ter um olho só
para sofrer menos
para doer menos
mas não é preciso ter dó
para doer menos
para sofrer menos

Choveu chove
e vai continuar chovendo
na vida tempestuosa
despedaçando nuvens
benzendo telhados
limpando toda a imundície do mundo
varrendo toda essa podridão
e lavando e esfregando e desinfetando
até arrancar o bicho da goiaba
que mora na maçã

Aos corvos devorando
espantalho enforcado na árvore
é preciso ser humano
PANOS QUENTES
é preciso sentir dor
PRATOS LIMPOS
é preciso lágrimas para chorar
PRATOS QUENTES PANOS LIMPOS

Requiem


Quando eu morrer
quero que queimem todos os meus escritos
em praça pública, caso eu for mais um.
Morto não sente mais dores.
Quando eu morrer
não quero flores e nem quero velas,
não em minhas roupas ou no meu caminho.
Morto não enxerga cores.

Quando eu morrer
quero que queimem todos os manuscritos
em casa mesmo, caso eu for famoso.
Morto não derrama lágrimas.
Quando eu morrer
não quero caixão e nem ser sepultado:
quero apenas o meu corpo atirado ao mar.
Morto não respira mais.

Quando eu morrer
não quero que paguem as minhas contas,
pois quem paga deve ser sempre o devedor.
Morto não deve um tostão.
Quando eu morrer
não quero que chorem no meu velório,
pois só se chora por dor ou por culpa.
Morto não pede perdão.

Caos & Efeito

transparência invisível
horizonte vertical
palavra indizível
silêncio primal

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

S.O.S.


Nem sempre uma vida simples é uma vida comum.
Nem sempre a maré-cheia dá marcha à ré
aos poucos.
Nem sempre sem pressa nenhuma.

Eu estou sem eira na beira de um rio que corre,
enquanto você me socorre
na outra margem.
Eu estou
sem eira na beira de um rio que passa,
enquanto você me ultrapassa
agora.

Nem sempre a ocasião propícia vem na hora certa.
Nem sempre navios chegam na outra margem.
Nem sempre
sem pressa nenhuma.

O mundo gira
e você prende a respiração.
Um dia o mundo pára
e você perde a respiração.

Fechado em Concha

Quando quero esquecer,
quando quero sonhar,
quando quero a noite e
quando não quero mais,
fecho minhas pérolas em concha
e não procuro saber
o que perdi.

Auto-retrato com cara de paisagem

O espelho é o oposto
do meu rosto.
O espelho
é o oposto de mim.
O espelho é o oposto de tudo.
O corvo
é o reflexo
da pomba
no espelho.

Nocaute em saco de pancada

Leve é um soco / fora de foco
Nenhuma norma / fora de forma
Longe daqui / fora de si
De papo pro ar / fora do lugar
Roubando esmola
Fugindo à luta
Não me amola
Filho da fruta
Fodido da vida / beco sem saída
De sangue quente a sangue-frio

No meio do jogo / a prova de fogo
Perdendo a fala / a prova de bala
Guardando mágoa / a prova d'água
Bagulho do bom / a prova de som
Guia de cego
Chutando o balde
Faltando fôlego
Segundo round
Valendo a pena / sair de cena
De sangue quente a sangue-frio

Chuva de vaia / tiro de raia
Direto de direita / tiro que deita
Já pro chuveiro / tiro certeiro
Passa amanhã / tiro na maçã
Pedindo aplauso
Todo à vontade
Contando causo
Só na saudade
Macaco ou Adão / parece armação
De sangue quente a sangue-frio

Preso na rede / morra de sede
Sem sobrenome / morra de fome
Faltando fé / morra em pé
Dia de sorte / morra por esporte
Caindo no R$
Correndo atrás
Passando mal
Descanse em paz
Fazendo figa / comendo formiga
De sangue quente a sangue-frio

Maria Gasolina

Cuidado com o cão
que envenena o motor
pra pisar no acelerador
e que beija o espelho
e passa o farol vermelho
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que rasga o asfalto
com o ego lá no alto
e que queima borracha
mas não cheira à graxa
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que canta pneus
brincando de Deus
e que foge do flanelinha
da polícia e do trombadinha
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que dribla a multa
(porém pague a puta)
e que atropela na calçada
e nunca pega nada
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que estupra e cresce
- ou dá ou desce! -
e que só sai à milhão
ultrapassando na contramão
por estar sempre com a razão na mão.

Latin Tupiniquim

Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos fundos.
Não me prendo a margens
escrevo nos muros da cidade
às escuras!
Não se aprende com a idade -
sirenes são imagens/miragens
de viaturas!
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos escuros.
O homem da pedra lascada
com tesouros da arqueologia
sem data.
O jovem com a vida lascada
e os mistérios da filosofia
barata.
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos sujos.
Peneirando pedras preciosas
e a história toda estoura
: 3, 2, um...
Apedrejando perdas gloriosas,
alguém passa a vassoura
e: BUM!
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos confusos.
Pelas paredes, o pedestre
matando cachorro a grito
agora chora.
Sem canudo nem gabarito,
o aprendiz matou o mestre
antes da hora.

Poção Mágica

O amor é cego
Asas de morcego
O amor arranha
Patas de aranha
O amor é tutu
Bico de urubu
O amor na mão
Dentes de tubarão
O amor soçobra
Chocalho de cobra
O amor é sexo
E o resto da sobra que segue em anexo

O amor na veia
Óleo de baleia
O amor na mesma
Antenas de lesma
O amor nasce sol
Casa de caracol
O amor é só papo
Veneno de sapo
O amor é abstrato
Sola de sapato
O amor em tese
Feto conservado em compota de maionese

Vassoura no caldeirão
Mexa em sentido anti-horário
E beba de um só gole esta poção
Pois pouco importa a lua
Pois ela será sua
Assim que aumentar seu salário

Inédito Hoje


"A televisão matou a janela."

Nelson Rodrigues

Saio da janela e ligo a tevê

Novela rural

Mudo de canal

Comercial

Mudo de canal

Programa musical

Mudo de canal

Entrevista banal

Mudo de canal

Infantil fecal

Mudo de canal

Mapa astral

Mudo de canal

Telejornal

Mudo de canal

Hino Nacional

Mudo de canal

Mundo animal

Desligo a tevê e volto à janela

Fastfood-se


Bom dia!
Qual é o seu pedido?
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Mc WC,
Mc marmita,
Mc x, Mc shit,
Mc pão com ovo & fritas!

Boa tarde!
Faça o seu pedido!
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Sunday de sangue!
Sunday de coco-late!
Coca-Cólica SEMPRE Coca-Cólica!

Próximo!
Benito Mussarela rangando pizza de mussollini
& cachorro-quente (hot-vale)
perseguindo
churrasquinho-de-gato-grego-grelhado
num desenho desanimado...

Espírito Periférico

vende-se aluga-se troca-se

vende-se à vista
vende-se a prazo
a perder de vista
ou a longo prazo
a alma por uma pataca

aluga-se um cômodo
tão incômodo
quanto um parto
aluga-se um quarto
da alma
porque a carne é fraca

troca-se
troca-troca
troca-se
a alma por uma maca

compre grátis
e preste atenção
na prestação

se aceita ticket
tique nervoso
se aceita cheque
xeque-mate
se aceita vale
vale encantado
se aceita cartão
cartão descrédito
se aceita passe
passe bem

vende-se aluga-se troca-se
a alma não vale nhaca

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cada Dedo

CADA
DEDO
QUAS
ECOL
ADOD
OLAD
ODOO
UTRO

As Cores

O antônimo de preto
é branco. O antônimo
de rosa, azul. E o de verde,
maduro.

Silogismo

O cão é o melhor amigo do homem.
O cão não gosta do carteiro, logo
o carteiro não é homem.

A Lágrima

A lágrima que desce com o olho
O olho que desce com a lágrima
que desce com o olho
que desce com a lágrima

que desce
que desce

E que cai a cara e come o corpo
E que vai a cara e move o corpo
E que sai a cara e some o

E que a sede que ainda insiste
E que a fome que nunca desiste
que acabe
que cesse

sem porém
porém sem

a pedra e o podre

E que a sede
E que a fome

Rachesequerachesequeracheseque

A Mosca

A mosca tem várias visões do mundo:
eu que não alcanço o seu ponto de vista.
E nem a avisto quando ela pisa fundo
e eu perco fácil fácil a sua pista.

Foda-se!

Muitos têm pouco
e poucos têm muito.

Eu não estou aqui por brincadeira.
Eu não estou brincando.
Eu não estou não.
Eu não estou.
Eu não estou aqui.

Foda-se que se foda o mundo!
Eu não tenho chance,
meu grito não tem alcance.
Foda-se que se foda tudo!
Eu não tenho chance,
meu grito não tem alcance.
Foda-se que se foda!

Muitos têm pouco
e poucos têm muito.

E eu não estou aqui por brincadeira.

Sal na Lesma

A lesma passeia
construindo sua estrada
de diamantes
enquanto o encanto
inicial se esvai
no ralo sujo da memória.

Um Sol Para Cada Montanha

para meu irmão
Eu não queria precisar
de moedas e medalhas.
Eu só queria precisar
de uma vida sem migalhas.
Eu só queria precisar
de uma vida
devida-
mente dividida
: uma árvore como casa
(da madeira faz-se a brasa!),
ossos como ferramentas,
folhas e gravetos como teto,
couro de animais como vestimentas
e um filho que me destinasse um neto.
Animal, mineral, vegetal
nunca iam faltar.
Eu só queria um lugar!
Eu só queria precisar
de mais nada.
Eu não queria precisar.
Eu só queria precisar...
Além do mundo,
de uma sacada,
além de tudo
e mais nada.

Fábula Verídica

Era uma vez
até que um dia
todos viveram felizes para sempre.

Abra a Janela


para Lene

O sol quer entrar!
Quer entrar mas você pensa
que ainda não é o momento...
Você é quem faz o momento!
Faz o momento e
transforma a vida e
transforma o mundo e
tudo o mais,
trazendo o que os olhos não podem ver
ao alcance de suas mãos.