Silêncio~Primal

Silêncio~Primal
Lendo...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Pote de Ouro no Fim do Arco-Íris

Passei o semáforo no vermelho.
Poderia ter colidido com outro auto,
veículo de grande porte,
muro ou árvore;
poderia também
ter atropelado alguém
ou algum
cão.
Mas não.
Desgovernado,
desviei da cancela
e caí na ribanceira;
saí um pouco arranhado...
Mas entre mortos e feridos,
salvaram-se os vivos.
Vivos.
Vivos.
Viva!

Se tivesse seguido à pé,
evitaria o desvio.
O melhor atalho
ainda é o caminho mais árduo.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Garatujas no Papel Toalha

Garatuja 1

vivem no mesmo país
estado cidade bairro rua
dividem o mesmo teto
e não se entendem

trabalham juntos
são vizinhos
amigos íntimos
têm uma relação duradoura
laços sanguíneos
e não se entendem

estão todos no mesmo barco
e não se entendem
falam a mesma língua
e não se entendem
olham-se no espelho
e não se reconhecem

Garatuja 2

a essência da música é a poesia
a essência da dança é a poesia
a essência do teatro é a poesia
a essência da pintura é a poesia
a essência de todas as artes é a poesia
a essência da poesia é a vida

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Quatro Quadras Daqui

o sorriso
amarelo
é um belo
aviso

na hora h
do dia d
a bomba h
no ponto g

gosto
do clima
de gustav
klimt

o sono
profundo
é o dono
do mundo

Pó de Pirlimpimpim

aponta
a planta
na ponta
da ponte
e pinta
o poente
de pranto


se
sente as-
sim a-
cima do
sétimo
céu a-

quele
que
cai aos
ca-
cos no
caos do
chão de
cal

conta
e canta
quantos
plânctons
na planta

libélula lilás
belisca bétula

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

macaco burro
comendo banana
de dinamite
recém-nascido
na barriga da mãe
c a n i b a l i s m o

O Duplo

as sombras
das nuvens
nas montanhas

o reflexo
das árvores
no riacho

o homem
sem reflexo
no espelho

o primata
sem sombra
no chão

puro espírito

a beleza
é terrível

Encruzilhada

Quem conhece o caminho
está perdido.

Quem conhece o caminho
só conhece um caminho.

Quem conhece o caminho
não sabe de si.

Quem conhece o caminho
não pode seguir sozinho.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Epigrama

Cessa o canto
do pássaro
e o pássaro
deixa outro pássaro
para a posteridade.

Tempestade & Ímpeto

O marulho do mar
O barulho do bar
O barulho do mar
O marulho do bar

Homem ao mar - náufrago
Garrafa ao mar - mensagem
Homem no bar - bêbado
Garrafa no bar - quebrada

no balcão para briga
entre sujeitos sujos
de vestes e almas

Homem do mar - lobo do mar
Homem do bar - bebum do bar
Homem-mar / Homem-bar
Maresia / Bar & cia.

Mulher de Burca

Mulher de burca
seus olhos denunciam sua beleza.
O petróleo seca.
Aviões abraçam edifícios.
Homens se matam e matam-se uns aos outros.
Perde-se e ganha-se a batalha
e persiste a guerra.

Mulher de burca
permanece em pé
impassível
com seu véu e sua fé
inabaláveis.

Mulher de burca,
olhos vazios e luminosos,
as pedras viram areia
sob seus pés.

Notícia de Jornal

Depois de trocentas tentativas fracassadas
finalmente largou o fumo.
Ao atravessar a rua
foi pego por um carro da Souza Cruz.

Com Thoureau e Whitman (Poema Inacabado)

Achar uma cabana abandonada
no meio da floresta
desmantelada
achar uma fresta
uma picada
uma clareira como esta
no meio do nada
achar uma acha
e sentar o machado

Esperar que o fruto caia
na palma da mão
beber o rio
como os animais
debruçado Narciso
refletido nas águas

Como Thoureau e Whitman
com Thoureau e Whitman
e um barril de vinho
para Dioniso
e um barril vazio
para Diógenes
e um barril de pólvora
para todos

E um barril de tinta para mim

Eu
mero melro
andarilho sem sombra
coçando a perna perdida
em batalha
eu
um guardador sem rebanhos
pulando carneirinhos

Esticado na relva
no prado na estepe
na colina
saciado de orvalho
enroscado no alto das árvores
como pipa natural
adormecido
despencando feito fruta podre

escorrendo
feito areia fina
entre os dedos de deus
Enxergar o invisível
Escutar o silêncio
Poupar palavras

Matar a excelência
Respirar a essência
Misturar-se a ela
Tudo tem um Porém.
Nada também.
Rejeita a carne humana
seu Leão
Rejeita a carne humana
tu, oh, tubarão
Carne humana dá indigestão
nos vermes

Apolinisíaco

Poeta sem educação
Poeta sem metas
Poeta sem religião
Poeta sem regras
Poeta sem explicação
Eta poeta porreta
Apolinisíaco
Apocalíptico

Poeta sem ego
Poeta sem grana
Poeta sem emprego
Poeta sem cama
Poeta sem apêgo
Eta poeta porreta
Apolinisíaco
Apolítico

Poeta sem amarras
Poeta sem rimas
Poeta sem palavras
Poeta sem poesia
Poeta sem fala
Eta poeta porreta
Apolinisíaco
Apocalíptico Apolítico Elíptico

Geração X

Geração X/Gera ação X
Não Y/Nem Z
Degeneração Cerebral
Sem Q/Nem PQ
Masturbação Mental
Sem Sentido/Nem Destino
Desatino
Fora de Rumo/No Beco
Fora de Prumo/Na Boca
Andarilho na Trilha
Perseguindo sua Sombra
Entre tantos Escombros
Entre tantos Caminhos
Qual?
Sem Reflexo no Espelho
Utopia/Distopia
Não Caos Total
Bagunça Organizada
Geração Cheese
É Ken me This
Então Morra/Porra
& Seja Felix

sábado, 22 de maio de 2010

Ala Vip

Todos os Patrões do Mundo
têm cadeira cativa
no Inferno.

Traição diária
de superiores a subordinados
por trinta sorrisos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Narciso

O outro
é o espelho
de mim mesmo.
O outro
me
espelha.
O outro
sou
eu.

O outro
é o eu
multiplicado.
O outro
é o meu
próprio reflexo.
O outro
eu
sou.

O outro
se repete
em mim.
O outro
é o reflexo
de mim mesmo.
Eu
sou
o outro.
escrever escrever escrever
para não
passar em branco
CASCA
CASTA
CATA
CASCATA

Índio Galdino

vestiram o índio
destruíram sua aldeia
índio vestido
índio favelado

ensinaram o índio
comer de garfo e faca
sentar a mesa
ensinaram português do brasil

índio da cidade
índio urbano
arrumaram trabalho
na fábrica do branco

trataram o índio como negro
e o negro como bicho
bicho do mato
do mato queimado

arrumaram um trampo
na plantação de marihuana
pro índio índio ilegal
aculturaram o índio

o índio não é negro
o índio não é branco
o índio não é amarelo
o índio não é índio

espancaram o índio
até o desmaio
o índio numa cela
escória da sociedade

civilização selvagem
queimaram o índio
enterro humilde
enterro cristão
Eu faço de tudo
pra não ter
que fazer nada.
As idéias estão no ar:
basta respirar.

Exemplos

Sigo os exemplos:
os bons e os maus exemplos.

Não sigo todos os conselhos que escuto,
só os que ouço.

Aprendo com os meus erros
e com os erros dos outros.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

um grão de sal
numa gota de orvalho
uma lágrima
o galo cantou
o sino tocou
a cobra fumou
já cansei de concluir no final
poluição sonora
poluição visual
poluição do ar
poluição da água
mente poluída

S.O.S. Favela

Favela sobe o morro
Favela desce o rio
Favela pede socorro
S.O.S. Brasil

Favela sob a ponte
Favela ano 2000
Favela no horizonte
S.O.S. Brasil

Favela cobre o viaduto
Favela pega no fuzil
Favela subproduto
interno bruto

S.O.S. Vazio

Favela se conscientiza
Favela realiza
Favela se realiza
Favela concretiza
O beija-flor
nunca pára de bater as asas:
nem morto,
em sonhos
ou na fotografia.

Made in Paraguay

charuto cubano
filosofia alemã
cinema americano
e a música brasileira

whisky escocês
tapete persa
perfume francês
e a seleção brasileira

porcelana chinesa
balé russo
tecnologia japonesa
e a mulher brasileira

Caixinha de Música

dentro da caixa de sapato
uma caixa de remédio e dentro
um caixa de fósforo em seu interior
uma caixa de surpresa
caixa de pandora
à meia voz
à meia luz
à meia-noite
amei-a

Hélice

a roda e o pneu
o pião e o carrossel
a bola e o bumerangue
as mariposas e as idéias
o guarda e a prostituta
o olho e o pescoço da coruja
a terra e a lua
os planetas e as estrelas

rotação centrípeda
translação centrífuga
círculos concêntricos
em queda-livre no universo
tudo é movimento
e meio gira
até a pomba gira

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Farra Do Boi

Todas as portas abertas
Todas as pernas abertas
Todas as portas fechadas
Todas as pernas abertas

Todas as mentes abertas
Todos os olhos abertos
Todas as mentes abertas
Todos os olhos fechados

Todas as portas abertas
Todas as pernas também
Todas as mentes abertas
Todos os olhos idem ibdem

O Lobo E A Lua

O vinho e o violão
A praia e a cabana
A brisa e a fogueira
Ela e eu
O lobo e a lua

A louca me deixa tonto

Contra-Mão

na contra-mão
com a cara no chão
meia volta volver
volta e meia
e volvo
cuidado com o caminhão

Favela S/A

naquela vila
naquela viela
no fim da fila
lá na favela

nos becos
botecos
nas quebradas
bocadas
aos trancos
e barrancos
barracos
nos buracos
das enxurradas
das enchentes
e cheias
cheias de gentes
soterradas

não moro
no morro
me escondo
no raio que o parta
na puta que o pariu
na casa do caralho
na casa do chapéu

fico no fundão
moro no fundão
vivo no fundão
sou do fundão
fundão da zona norte
fundão da zona sul
fundão da zona oeste
fundão da zona leste
fundão da sala de aula
fundão do busão

no fundo no fundo
no fundo do coração
no fim do mundo
no cu do mundo

logo ali ao lado
lá longe
onde
judas perdeu as botas
no cu do judas

mundo perdido
todo mundo fodido
tá tudo fodido

na fossa
no fosso
na poça
no poço

no fundo do poço
dos dejetos

sem destino
na multidão
sem sentido
na solidão

no final do arco-íris
nem pote de ouro nem anão
teleférico
teletransporte
telégrafo
telepatia
telegrama
telefone
telescópio
televisão
de qualquer modo
de qualquer forma
de qualquer jeito
de qualquer maneira
jogo da amarelinha
jogo das contas de vidro
jogo da vida
jogo sujo
astrônomo
astrofísico
astronauta
astrólogo
astrogildo

NoZ

nó de gravata
nó de marinheiro
nó na garganta
nó em pingo d'água
nó cego
nó no serviço
no bem dado
nó apertado
nó no peito
nó no nó
pouco d'água
pingo d'água
copo d'água
cobra d'água

Aguá2oh

água natural
água mineral
água torneiral
água de beber
água molhada

água potável
água da fonte
água da bica
água de côco
água de colônia

água gaseificada
água doce
água salgada
água que passarinho não bebe
água oxigenada

água salobra
água cristalina
água tratada
água fresca
água filtrada

água pluvial
água fluvial
água rás
água viva
água furtada

água líquida
água sólida
água gasosa
água insípida
inodora incolor

água gostosa
água na boca
escassa transbordando
água benta
água do joelho

Carmen Miranda

banana prata
banana maçã
banana figo
banana da terra
banana frita
banana cozida
banana de pijama
banana d'água
banana ouro
banana pão
banana blue
banana boat
banana verde
banana madura
banana podre
banana nanica
banana de dinamite
banana split
banana pra você
Calígula
co'a língua lá!
Todo santo dia
é um dia santo.

Até O Fim

Morrer de morte matada
morrer de tiro não
morrer de facada
ser devorado por animais selvagens
ou canibais
ficar preso entre as ferragens
ou entre os escombros
sobreviver é carregar
todo o tempo inteiro
a própria morte sobre os ombros
e a morte é do tamanho do mundo
e cabe na palma da mão
morrer é simples
morte súbita não é morte violenta
um baque surdo e pronto
estou morto e ponto
nada disso
morte violenta é morte lenta
até o fim

Fora do Ar

A tevê desligada
é o canal.

É O Fim

O Fim do Mundo vai acabar comigo.
O Fim do Mundo vai acabar com você, meu amigo.
O Fim do Mundo vai acabar com todo mundo.
O Fim do Mundo vai acabar com tudo.
O Fim do Mundo vai acabar.
MODA IN
MODA CO
MODA IN
CO MODA
IN MODA
CO MODA
INCOMODA

Maus Tratos

A arte de copiar a arte
de samplear a arte de rabiscar
o abstrato é concreto

A arte de subtrair a arte
de subjulgar a arte de sabotar
a arte de subornar

A arte de bajular a arte
de matar a arte de roubar
a arte de vomitar a arte

de comer a arte de guardar
pra mais tarde a arte
de desabonar a arte de

se esconder atrás do outro

Trucidando

Tudo sangra há tempos
ligando nada a coisa nenhuma
gritando
berrando
esgoelando
em 4 tempos
aos 4 ventos
encanados
nos 4 cantos
entrando pelos canos
entupidos
derramando
desperdiçando
pra tudo quanto é lado.
Como educar os sentidos?
Como educar os olhos e ouvidos?
Como educar olfato e paladar?
Como ter tato?
Como pedalar? Educar os filhos?
Se quando eu abro a janela
a descarga não funciona,
se quando eu abro a porta
a porca emperra,
se quando eu olho, se quando eu choro,
se quando eu sonho
é pesadelo?!

quinta-feira, 25 de março de 2010

2 em 1

§
deus me defenda
do imposto de renda
deus me defenda
da calcinha de renda
deus me defenda
antes que eu me renda

deus não se ofenda
minha alma não está a venda
é só uma oferenda
uma mera merenda

§
a água devora a rocha
a criança devora o ancião
a jibóia devora o boi
pombo correio devora pomba da paz
os sapos também comem rãs
a máquina devora o homem
corvos devoram espantalho
planta carnívora devora animal vegetariano

na cadeia alimentar dos seres livres
devora-te a ti mesmo
a lei do antropófago
é pôr no do outro

Lição de Piano

asdfg çlkjh asdfg çlkjh asdfg çlkjh asdfg çlkjh

Piuííííííííí

TREM
esse troço
que segue a
trilha

TREM
esse treco
que descar-
rilha
Depois que se desaprende a engatinhar
quebram suas pernas.
Que raio de sol + fraco!

O Chamado

assovio na viela
grito no gueto
berro no beco
urro na rua
e o filho da puta
não me escuta

Sem Rumo

Em Deus confio
Eu desconfio
Aos que ainda não estão mortos
SIGAM-ME
Desconheço o caminho

Catedral Interior

praias paradisíacas?
paraísos artificiais?
regiões inóspitas?
eu sou o meu retiro espiritual!

O Ser é o Nada

Um homem caminha na neve
deve ser leve ser breve
gelo norte gelo leste
gelo sul gelo oeste
um iceberg

Um homem atravessa o deserto
tão longe tão perto
areia norte areia leste
areia sul areia oeste
um oásis

Um homem à deriva no oceano
animal deus humano
mar norte mar leste
mar sul mar oeste
uma ilha

Um cisco de nada
no meio do nada
é o centro de tudo

Cinco Pontas

Eu queria entender
de estrelas do mar
de estrelas do céu
para desengatar
a estrela cadente
da estrela do mar
O artista tem de ser irresponsável.
Para criar é preciso ser malcriado.

Todas as Cores

amarelo com vermelho
uma fruta
vermelho com azul
uma flor
azul com amarelo
uma folha

a pomba
na teoria
o luto
na prática

vermelho com preto
a terra
vermelho com branco
outra flor

preto no branco
restos mortais

Silêncio Primal

palavra chave
é palavra mágica
palavra de escoteiro
é palavra de honra
palavra branca
é palavra de paz
palavra negra
é palavra final
palavra ao vento
eco
palavrão
é palavreado
palavrório
minha lavra
na palavra silêncio
o verso é o verbo

Liquidificador

amor no elevador
nascimento no elevador
morte no elevador
preso no elevador
pum no elevador
medo de elevador
sozinho no elevador
cumprimento de elevador
música de elevador
merda no ventilador
planta da casa
planta do pé
planta carnívora

Éden Ideal

Minha musa
minha deusa
minha rosa
minha princesa

eu amo você
meu amor
meu anjo
minha flor

meu doce
meu nenem
meu bem
meu bebê

você povoa meus sonhos
você me lava feito um vulcão

Palmas

De mãos dadas
de mãos abanando
de mãos atadas
palmas para os manetas

Andarilho

rebentou uma hawaiana
e eu que tava à pé
fiquei descalço

Voyeur

vozes no quintal
breve silêncio
risos no quintal
novo silêncio
rosas no jardim
vasos na varanda

pelo buraco da fechadura
você vê a chave

patas no telhado
breve silêncio
gatos no telhado
novo silêncio
patos no portão
putas na janela

pelo buraco da fechadura
ela está lá dentro

Paradisíaco

praias desertas
horas incertas
mentes abertas

segunda-feira, 22 de março de 2010

Alto Falante

Ele é o elefante,
sujeito galante!
Ele escala aquele monte
e atravessa a ponte
pra beber água na fonte.
Seu ancestral é o mastodonte.

Ele é o elefante,
sujeito infante!
Só o chimpanzé zomba
quando ele tomba.
Alto falante ele tromba
e arma uma festa de arromba.

Ele é o elefante,
sujeito gigante!
Mamífero, vegetariano
com orelhas de abano.
Se ele entra pelo cano
pode causar algum dano.

Ele é o elefante,
sujeito brincante!
Não sente medo de nada
quando junta-se a manada.
Bailarina faz palhaçada
com patas traseiras levantadas.

Ele é o elefante,
sujeito elegante!
Pisoteia as flores do jardim
pra procurar amendoim.
Mas tem um triste fim
quando tiram seu marfim.

Ao Pé da Pia

Ao pé da pia uma aranha
Ao pé da pia uma barata
Ao pé da pia um rato
Um grito de horror
AAAAAHHHHH
Ao pé da pia três sapatos

V i o l i n o

Para o tio Maiquinho
a cria
que guia
e grila
o grilo
que cricrila
aquilo
que guia
a cria

Vazamento

Gota a gota pinga
água no banheiro.
Gota a gota pinga
água do chuveiro.
Gota a gota pinga
e cai no bueiro.

Pinga gota a gota
pinga
água da torneira.
Pinga gota a gota
pinga
e cai na banheira.

Gota a gota pinga
água vaza do vaso.
Gota a gota pinga
água alaga o raso.
Gota a gota pinga
e cai por acaso.

Pinga gota a gota
pinga
água mal-cheirosa.
Pinga gota a gota
pinga
e cai prazeirosa.

Terreno Baldio Menino Vadio

Logo ali ao lado
do outro lado
de lá

Do outro lado
do muro
Logo ali ao lado
um outro
mundo

Do lado de lá
do muro
Logo ali ao lado
um mundo

Do outro lado
do muro
o outro mundo

Tatibitate

babe o bê
beba o bá
babe o bê-a-bá

beba o bê
babe o bá
beba o bê-a-bá

babe o bê-a-bá
bebê
beba o bê-a-bá
babá

beba e babe
bobão

Passeio Noturno

sua a ave
suave
e travessa
que tenta
atravessar
o avesso
do seu
travesseiro

Palavras Mágicas

De dentro da cartola
o mágico saca
o que o público nem imagina:
coelhos e pombos!

No fundo do baú
o mágico caça
o que seu público nem sonha:
cartas e dados!

A varinha mágica ajeita
sua cartola na cabeça
e a capa esvoaça
para que a platéia desapareça.

P a l h a ç o

Para o Gabriel

Palhaço
rouba uma torta e leva um taPA
Palhaço
tenta correr mas nunca escapa
Palhaço
é quando o carro colorido derrapa
E a roupa esfarrapa
esfarrapa esfarrapa

Palhaço
até com a sopa você se atrapalha
Palhaço
quem mais toma sua sopa é a toaLHA
Palhaço
mas na hora de limpar não falha
A barriga chacoalha
chacoalha chacoalha

Palhaço
sempre com cautela a cada passo
Palhaço
não esconde da criança seu cansaço
Palhaço
ela já te acha o homem-de-aÇO
- Mas que palhaço
palhaço palhaço

O Vaga-Lume

O vaga-lume
vagabundo
vaga e lume
no tempo...

Só vôa e
nunca pousa.
Acende e some
no vento...

O tempo
sopra
vaga-lume...

O vento é
só pra
vaga-lume...

O Recanto do Assovio

pássaro parado
parada rápida
pássaro menino
passarinho

mas pesado
para o galho
em que pousou

com o peso
galho podre
fino e frágil
se quebrou

pronto
pássaro passa
agora
voando
a mil por hora

O Passarinho do Menino

O passarinho do menino
canta bonito
porque fica triste
na gaiola.

O passarinho do menino
está triste
porque não vôa
engaiolado.

Onomatopéico

O Auau
comeu o Miau
que comeu o Piupiu
e o VRUM atropelou o trio.

O Arco-Íris

O arco-íris
é o arco da terra
que começa na cachoeira
e termina na serra.

O arco-íris
não é arco de flecha.
Mas ele se abre
feito leque de gueixa,
feito cauda de pavão.

O arco-íris
é a partitura da canção
da paz
num tobogã de notas musicais.

Números

Um trevo de quatro flores de quatro
pétalas e quatro folhas
verdes.

Conta e canta
quantos números
na planta.

E sobre cada número pousa um zangado
zangão e uma abelha
colhendo mel.

Conta e canta
quantos números
na planta.

E caem duas folhas verdes a cada
quatro minutos que crescem
mil e muitas outras

quando uma criança conta
quando cem crianças cantam
quando mil crianças plantam

quando mais.

Em Câmera Lenta

A tartaruga
é a fêmea
do bicho-preguiça.
E suas crias
são as lesmas.

Dono da Rua

Ei! você pensa que é
o dono da rua?
Eu tenho muito,
todos temos muito
sono quando
some o sol e
sobe a lua.

Moderação

Depois de traçar uma melancia
fiquei cheio de melancolia.

Saco vazio não pára em pé,
mas saco cheio também não, né?

Chá com Bolacha

Abro a lancheira
no recreio
cheia de lanche
no recheio.

Cheiro de chá
com bola-
chá com bolacha
no meio.

Cata-Vento

Cata-vento aos quatro ventos,
legado ao léo.
Levelozes movimentos
cegos no céu.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ninguém Teme o Medo de Alguém

Casa assobradada
Casa abandonada
Casa assombrada

Teias pelas paredes
Teias no teto
Teto sem telhas

Piso de tacos
Tacos soltos
Pontas de pregos

Do sótão ao porão
Lençol branco
Bela assombração

Quem Escreve a História

Quem escreve a História?
A versão oficial
é ditada pelo Opressor
e fica registrada nos livros de História.
A versão extra-oficial
- a do Oprimido –
é fragmentada em romances, poemas,
cartas de suicídio.
Quem reescreve a História
faz ficção.

quinta-feira, 4 de março de 2010

visível
divisível
risível

invisível
indivisível
indizível

Urro

mas fez
mas fez
mas fez
fez
mas fez
mas fez
fez
mas fez
mas fez
feio

mas não faz
não faz
não faz
mas não faz
não faz
mas não faz
não faz
mais

Uma Nuvem

avelu
mente
dada

dada
avelu
mente

dada
mente
avelu

mente
avelu
dada

avelu
dada
mente
------a
----idade
-revida
-----à
brevidade
-----da
---vida

Sal na Sauna

o lagarto seco com
a língua seca na
areia seca do
deserto seco sob
o sol sequíssimo
sequííííííssimo
REVOLUÇÃO
EVOLUÇÃO?
DEVOCÃO
DEVOLUÇÃO!

vira e
volta
volta
e vira
revolta

vira
e volta
volta e
vira
reviravolta
revem
revai
revolta

Redenção (ou Rendição?)

nem extremesquerda -------------------nem extremadireita
------nem à esquerda-------------------nem à direita--------
-------------------------ou ao centro-------------------------
-------------------SEMPRE EM FRENTE--------------------
---------------------------E ALÉM---------------------------
PRISMA
PLASMA
PLUMAS
PLAINA
pertóleo
pretóleo
petróleo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Os Sinos

com um
comum
gnomonomogno
protejo meu
projeto
lúdico
lúcido numa
coisa
ciosa para
iludir e
diluir
débeisbedéis

com um
comum
gnomonomogno
enterro num
terreno
úmido
miúdo de
cores
ocres o
destino
sentido por
débeisbedéis

O Porta-Aviões

o navio
nada viu

o avião
não viu não

o uivo do lobo
viúvo da lua

o alvo da
alvorada

um alvoroço
voraz

o1.ll.199E

O Espelho

O lago / O céu
é o espelho / paralisado
do céu / no espelho

O lago / Os pássaros
é o espelho / quebram
dos pássaros / o espelho

O lago / As estrelas
é o espelho / iluminam
das estrelas / o espelho

O lago / As nuvens
é o espelho / lavam
das nuvens / o espelho
Na caixa de plástico
de conchas de praia
o passado ficou para trás
: são teias de aranha
ou rachaduras na parede
?

Morcego

morcego
cego-mor
amor te cega
a morte
cega

Licença Poética

Primaverãoutoninverno
rima
ave
ver
era
o verso
ou o inverso
um universo de palavras
e silabadas
trocadas.

Verdadeira
matéria
prima de
rima é poesia.

Labirinto Perdido

mino
dino
tauro
sauro
minossauro
dinotauro
PASSO A
PASSO
PASSA A
PAZ
PASSO A
PASSO
PASSA O

PÁSSARO
ATÔMICO

E A
PAZ
PASSEIA

Horizonte Vertical

o monte é paisagem
a fonte é paisagem
a ponte é passagem
pra gente passar e ver
o monte e ver
a fonte e deixe que eu conte
pra você que eu vi

o monte que é paisagem
a fonte que é paisagem
a ponte que é passagem
pra gente passar e ver
o monte e ver
a fonte e deixe que eu conte
pra você que eu vi

o monte que é uma paisagem
a fonte que é uma paisagem
a ponte que é uma passagem
pra gente passar e ver
o monte e ver
a fonte e deixe que eu conte
pra você que eu vi

o monte e vi
a fonte e deixe que eu aponte
pra você só pra você
que vai por aqui por alí
por aí

Ás

As
notícias
)o vento( traz
pássaro
passageiro
leva
as
notícias
que )o vento( traz
pássaro
mensageiro
passa
as
notícias
que )o vento( traz
pássaro
pombo-correio
pousa
com as
notícias
que )o vento( traz
leva passa pousa
vai-se
com as
notícias
que )o vento( traz
para
o navio noturno.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

não
eu não
eu não quero
eu não quero saber
eu não quero mais saber
eu não quero mais nada
eu não quero mais saber de nada
não quero
não quero
e
não quero
não
eu quero
é mais
eu quero saber de tudo
eu quero saber tudo
eu quero saber
eu quero tudo
eu quero
quero
quero
quero
quero
quero
essa farsa
se esparsa
essa força
se esforça

essa farsa
se esforça
essa força
se esparsa

essa farsa
essa força
se esparsa
se esforça

se esforça
essa farsa
essa força
se esparsa
equívoco
aqui evoco

o uivo
um eco oco
que eu ouço

um eco oco
em mim
equidistante
aqui
d i s t a n t e

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Emergência Urgente

ALERTA VERMELHO
A L E R T A V E R M E L H O
evacuar área

BUZINAS E APITOS / ASSOVIOS E GRITOS

ALERTA V E R M E L H O
ALERTA
VERMELHO
alarme falso

DESARME / O ALARME
efervescente
essência
efêmera

Destino/Sentido

destino
sentido
sem sentido
nem destino
desatino

Crítica

CRÍTICA
CRI
CRI
CRÍTICA
TI
TICA
CRÍTICA
CRI
A
CRÍTICA
CRI
CA
CRÍTICA
c r i t i c a
coceira no ouvido
com cera no ouvido

coice ira no olvido
como será o olvido

Banana Blues

céus e oceanos soldados
tudo azul como água
azul da cor dos olhos da princesa
xuxu beleza
azul da cor da luz
luz azul obus
azul celeste
azul marinho
azul turquesa
azul bebê
azul piscina
azul banana

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cio

uma estrela de cinco
dentes
c
a
i
doente
no vale verde
e cava
sua cova
)dentro(
do mar
NEGRO
e crava
suas presas
numa
estrela
vermelha

Catavento

catavento
cata
bata
ata
asa
vento

ave

ave
vendo
ave
vindo
a
vem
vindo
ave
voando
ave
vi
vendo

Boca do Lixo

PRANTO
PRATO
RATO
ATO

come
come
con-
some
some

Batimento

pouco
tempo tempo tempo
pouco
tempo tempo tempo
pouco tempo
pouco tempo
pouco
tempo tempo tempo
a nível de
não é
de nível a
a d n
d n a
n d a

A Mãe e Ser


A mamãezinha nina
o nenem
e o nenem
nana
no
ninh
o

Abra

abracadabra
quebra-cabeça
pé-de-cabra
cabra-cega
brica-braque
brinquedo
quebrado

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dança Macabra


Dane-se Dânae!
A dança do amor
é a dança da morte.

Vc

Você
liga a tevê
e
o quê
você

?

Você
desliga a tevê
e
o quê
você

?

Você
fecha os olhos e
o quê
você

?
Vc
!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vamos Dividir a Violência

Vamos dividir a violência
como Cristo que repartiu o pão com seus apóstolos
: uma fatia para o crime desorganizado da sociedade
e uma migalha para os laranjas pés-de-chinelo,
outra fatia para o Exército de brinquedo
e outra migalha para a polícia recheada de carunchos,
um pedaço razoável para a Igreja Católica
- que faz de tudo para esconder e esquecer -
e a maior parte para a camisinha do Papa
capitalista.

Vamos dividir a violência
como Cristo que multiplicou os peixes para seu povo
: uma fatia para o nosso machismo afeminado
e uma migalha para todo preconceito racial e social,
outra fatia para os motoristas imprudentes
e outra migalha para os pedestres preguiçosos,
um pedaço razoável para o estuprador e a prostituta
- que fazem de tudo por gozo e luxo -
e a maior parte para a constelação do Paraíso
individualista.

Vamos dividir a violência
como Cristo que idealizou um mundo em comunhão
: uma fatia para os políticos paleolíticos
e uma migalha para suas orquestras de eleitores,
outra fatia para toda censura física e moral
e outra migalha para os assassinos pró-pena de morte,
um pedaço razoável para o intelectual esnobe
- que faz de tudo pela autopromoção -
e a maior parte para o milagre da história
moralista.

Vamos dividir a violência
como Cristo que se crucificou por amar demais
: uma fatia para os homens com seus relógios
e uma migalha para os jovens com seus umbigos,
outra fatia para as mulheres com seus espelhos
e outra migalha para as crianças sem fim nem futuro,
um pedaço razoável para drogados e caretas
- que fazem de tudo para viver à margem -
e a maior parte para a condição humana
maniqueísta.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Validade Vencida

Quem não vale o que come,
não vale o que caga.
E quem não consome
- paga!

Unissex

cor CREDO
classe social CREDO
religião CREDO
opção sexual CREDO
em cruz
cruz CREDO
eu não

ativos e passivos
e inativos
desempregados
aposentados
UNI-VOS
na fila do feijão

fila do banco
fila do pão
fila cigarro
fila bóia
FILA É O CÃO
fila da puta
furando a fila
do busão

trabalho infantil
trabalho escravo
JESUS 2000
sem um centavo
na mão

homem tem caralho
mulher não tem
homens ao trabalho
mulheres também
é unissex
ficar na mão

haja colhão

ninguém
sem
um
nem
sem
nenhum
tostão
furado na mão
furada na pregação
é dura a dor
da dor que dura
roa a quem roer
PATRÃO
LADRÃO

Turismo Sexual

O bom velhinho veio vestido de Papai Noel
com o saco cheio
de presentes...
O bom velhinho veio de trenó puxado por renas
com o saco cheio
de mentiras...
O bom velhinho veio parar na América Latrina
com o saco cheio
de intenções...

...boas intenções!
...cheio de boas intenções!
...com o saco cheio de boas intenções!
...de saco cheio com as boas intenções!

Tremetrônibus

A cada mm² - o pó!
A cada cm² - os objetos e o pó!
A cada m² - os móveis, os objetos e o pó!
A cada km² - as casas, os estabelecimentos
comerciais, as calçadas,
as ruas, as estradas, as igrejas,
catedrais, praças, escadarias,
campos, cidades. . .

Não se pode falar
do movimento no mundo
em segundos,
minutoshorasdiasmesesanos,
séculos... Daqui pra frente
muitas águas passarão. . .
muitas pedras rolarão. . .
outras águas passarão. . .
outras pedras rolarão. . .

O mundo não é mais o mesmo.
Tudo mudou! -
reza o velho deitado
que sobrou.

Mutirão multidão de passos
e sombras suando
e escarrando para gritar
e muitas moscas muito velhas
e muitas moscas muito jovens
esperando a vassoura do vento,
esperando o tempo varrer
os pontos de ônibus,
as filas de banco, do cinema,
da lanchonete, do pipoqueiro. . .
CALMA PESSOAL CALMA

MOS CAS NA MER DA HU MA NA
asas queimadas,
perninhas cortadas
e olhos de vidro
em cheio na caçapa. . .

Os parafusos que montam o metrô § § §
As peças que montam o metrô / / /
Os vagões que montam o metrô = = =
E os moleques - surfistas de trem -
que montam no trem,
que picham o trem,
que andam com as portas do trem
abertas,
ou com as cabeças para fora das janelas. . .

O metrô não anda fora dos trilhos
O parafusos §§§ as peças /// os vagões ===
O metr Ô o Metr ô O metr Ô
E os moleques - surfistas de trem -
que montam no,
que picham o,
que andam com as portas do
abertas,
ou com as cabeças para fora das janelas. . .

O metrô é limpo!
O metrô não chacoalha como o trem.
É o segundo melhor metrô do mundo!
Por quê será?
Por quê os moleques - parará parará -
nunca nada não
dentro do metrô? ? ?

Milímetro por milímetro por
centímetro por centímetro por
metro por metro por
quilômetro por quilômetro pelo
balanço limitado
que plagia as ondas da praia
quando o sol se põe
e amontoa,
assim como o trem amontoa,
as pessoas todas
em vagões nada vagos,
espremidas feito laranjas,
ou sardinhas em lata,
e n l a t a d a s.

Sem exagero.
A vista corre pela janela.

T e s t a m e n t o

Eu
daquele jeito
porpqwoerip4orçwtkpskjsdgçfgsçsdçfs
kjfosdfjlsji.largado

aos leões aos tubarões aos jacarés
aos urubus aos corvos aos ratos
às baratas às moscas às traças
aos vermes

minha filha
sua única herança
minha alma

Tábua de Salvação

tem gente
sem dente
na frente
tem gente
que só serve
pra servir

a mãe serve o pai
serve o filho
e serve ao deus
do além
a mesmamãe que serve
o pai o filho a deus
serve a mesa
a sobremesa
e o cafezinho também

o pai serve o patrão
em nome do filho
e amém

e o filho serve o exército
que não salva
ninguém

tem gente
que se sente
se acha mas
não se encontra

domingo, 24 de janeiro de 2010

Livros de 2oo9

o1. O Queijo e os Vermes - Carlo Ginzburg
o2. Há Quem Prefira Urtigas - Junichiro Tanizaki
o3. O Vento do Norte - Jack London
o4. Seis Primeiras Histórias - Thomas Mann
o5. Água Pesada e outros contos - Martin Amis
o6. Cartas do Yage - Burroughs/Ginsberg
o7. Os Duelistas - Joseph Conrad
o8. Sonho de uma Noite de Verão - Shakespeare
o9. Enquanto Agonizo - Willian Faulkner
1o. O Império do Sol - J. G. Ballard
11. A Morte de Olivier Bécaille - Émile Zola
12. Cristóvão Colombo - Julio Verne
13. Pacto Sinistro - Patricia Highsmith
14. Libelo Contra a Arte Moderna - Salvador Dalí
15. Dickens - André Maurois
16. Memórias de uma Menina Católica - Mary McCarthy
17. A Trégua - Mario Benedetti
18. O Trono no Morro - José J. Veiga
19. O Tio que Flutuava - Moacyr Scliar
20. Diário Póstumo - Eugenio Montale
21. Um Homem Extraordinário - Tchekhov
22. Os Cadernos de Malte Laurids Brigge - Rilke
23. Existencialismo - Jacques Colette

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sonhos de Consumo

um globo terrestre
um microscópio
uma bússola
um telescópio

um binóculo
um cata-vento
um caleidoscópio
uma rosa-dos-ventos

uma lanterna
um tabuleiro de xadrez
um cachimbo
um chapéu de palha

um peixe japonês
um gato malhado
uma iguana ou piton
um cachorro molhado

um crucifixo
um colar de alho
um buda
um pé de coelho

uma vara de pesca
uma rede
um chinelo de dedo
um sol inca

um girassol seco
uma pena de pavão
um pé de coelho
um dente de leão

um cocar
um berimbau
um arco-e-flecha
uma flauta de bambu

uma viagem
uma ampulheta
um marca-página
um bico de pena

uma carta
um telegrama
um bilhete
um pombo-correio

uma máquina do tempo
um teletransporte
um submarino
um foguete

uma nuvem
um arco-íris
uma canção
um milagre

O Trabalho Liberta

ripa ripa trampa
trampa trampa ripa
de sol a sol
à pino

bóia

deixa pra sonhar
à noite

trampa trampa ripa
ripa ripa trampa
de sol a sol
à pino

bora

deita à noite
pra sonhar

quem não nasceu com sorte
quem não nasceu por sorte
quem não nasceu pra ter sorte
não teve sorte ao nascer

estrela na testa
cu virado pra lua
s.o.s. r.i.p.

Sentido Desfigurado

Eu estou pentagonalmente enganado
Tu estás losangularmente enganado
Ele está retangularmente enganado
Nós estamos quadradamente enganados
Vós estais triangularmente enganados
Eles estão redondamente enganados

Blasé

sem sim nem não
talvez então

talvez você tenha vez
mas também talvez
não tenha talvez

e ao invés de
de vez em quando
de quando em vez

$?

Pra quê dinheiro?
Pra quê?
Dinheiro?
Dinheiro pra quê?

Pra comprar uma casa
e ter estabilidade.

Pra quê dinheiro?
Pra quê?
Dinheiro?
Dinheiro pra quê?

Pra poder criar asa
e não voar a vontade?

Ropa Chuja

educação de casa
asa
& brasa
educação da escola
esmola
& cola
educação da rua
nua
& crua

Quê Que Tem?

Quê que tem de comestível?
Quê que tem de combustível?
Quê que tem de combustível comestível?
Quê que tem
de comestível?
Quê que tem
de combustível?
Quê que tem? Quê que tem?
Nada. Nada. Nada.
Quê que tem?
Quê que tem?
Nada.
Nada.
Nada.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Quebre a Rotina do Território Alheio

galo ou relógio
trabalho ao sol
olho por olho
gato por lebre
olho gordo

defenda seu território
com unhas e dentes
e ruja

galo ou relógio
trabalho ao sol
dente por dente
tintim por tintim
dente podre

defenda seu território
com muros e grades
e mije

galo ou relógio
trabalho ao sol
sacuda o vizinho
acuda o vizinho
língua ferina

Promoção Pro Mocinho

ANAL
ORAL
MANUAL
R$ 1,00

Novo Poema do Beco


É a vida
: fecharam a entrada do beco sem saída.

Prometeu Engravatado

Prometem muito...........................................................................................................................................
Prometem demais.........................................................................................................................................
Prometem mundos e fundos........................................................................................................................
Pró-mentem!

Ponto Sem

www.segurança.sem.br
www.saúde.sem.br
www.emprego.sem.br
www.cultura.sem.br
www.educação.sem.br
www.lazer.sem.br
www.cidadania.sem.br

Otários & Gatunos

A violência escala muros altos com cacos de vidros e arames farpados,
invade o quintal,
pisa nas flores dos jardins,
engana os cães com carne envenenada,
pula a janela,
revira os armários,
sobe as escadas e se for preciso...

O gato preto ronrona
ao nosso lado na cama
com unhas e olhos acesos
enquanto o sonho não se cansa...

Um bafo quente no cangote...
O galo cantou,
é hora de acordar!

Motoboys, Perueiros & Camelôs

Cuidado com o cão!
Cuidado com o ladrão!
Eu sou um mal-intencionado
mas o que vale é a intenção.

E
já que estamos todos aqui
eu proponho um suicídio em massa.
E que passe o que passa!
E
já que estamos todos aqui
eu proponho um suicídio coletivo.
Televisionado e ao vivo!

Estamos todos
quase prontos
para o subsídio.
Estamos todos
quase prontos
para o suicídio.

Paciência!
: mercado informal ou indigência.

Pegadinhas e Cassetadas

Judeus e judiadas,
cristãos e cristalinas,
budistas e bundadas,
muçulmanos e muçulminas

: toda munda pelada!

Encontro na contramão
unabombers e kamikazes
: do céu ao chão,
azar dos ases!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Deixa Ela Entrar


Neve
Boneco de neve
Lebre na neve
Pomba e Corvo enamorados na neve
O Cuco derruba seus ovos na neve
Crianças albinamente louras na neve
De tão louras cabelos brancos na neve
Leite derramado na neve
Sangue inocente na neve
Sombras de espectros espesinhando a neve
Redivivo
Vampiro HIV +

Linha de Passe


cidade cinza
cidade suja
cidade grande
engole
sua prole
cidade vazia
uns ficam para trás
outros pelo caminho
uns entram pela porta dos fundos
outros por debaixo da porta
uns arrombam
outros pela janela
uns pulam o muro
outros pelas paredes
uns pelo cano
outros pelo ladrão

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Anticristo - Lars Von Trier


Nada se aprende
quando a perda
é maior do que a própria vida.

É próprio do amor
o amor próprio.

O Pôr do Sol Nascente


Num braço bem forte
uma âncora tatuada.
E no outro, um corte
sob mulher pelada.
"Meu navio não navega (vaga-lume) num nevoeiro, cujo
murmúrio do vento me chama de lixo indigente.
Eu sou um sujeito sujo
mas ainda sou gente."

Mais de mês no mar
limpando o convés.
Gaivotas d'além mar,
a mais de mil pés.
"Mesmo na prancha (olhos vendados) eu não fujo.
Não posso esquecer de lembrar do assunto pendente.
Eu sou um sujeito sujo
mas ainda sou gente."

É um saco de batata
por hora no porão.
Descascar não mata,
mas haja culhão!
"Terra à vista (1ª viagem) é miragem de marujo.
No ar, no mar, na farda - tudo azul me deixa doente.
Eu sou um sujeito sujo
mas ainda sou gente."

sábado, 9 de janeiro de 2010

O Lar É O Lugar

o dia infernal
a noite invernal
o trabalho e os dias
o prazer e os dias
o trabalho e o pesar
o seu o nosso o meu
o dia e a noite
o dia inteiro
e a noite toda
o dia cansado
e a noite insone
exaustos mas sem cessar
o cansaço insone
do trabalho do prazer
e dos dias o pesar
e o nosso e o meu e o seu
inferno invernal
meu seu nosso
o lar é o lugar

O Inferno São Os Outros Que Me Habitam


Eu sou o último segundo
Eu sou um suspiro profundo
Eu sou um poço sem fundo
Eu sou um anti-herói do submundo
Eu sou um sujeito sujismundo
Eu sou um médico moribundo
Eu sou um branco imundo
Eu sou um coelho infecundo
Eu sou um pombo iracundo
Eu sou um deus furibundo
Eu sou um albino quimbundo
Eu sou um bastardo oriundo
da periferia do 3º mundo

O Ganha-Pão do Passa-Fome

Sabão
tem massa de cão
vira-lata.
Sabão
tem pêlo de cão
vira-lata.
Sabão
tem cheiro de cão
vira-lata.

Sabão tem massa de fome.
Sabão tem pêlo de sobra.
Sabão tem cheiro de cão.

Cão
tem sabor de sabão.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

À Memória de Yorick

O palhaço do palácio tem que
fazer o Rei rir! chorar de rir!
mijar de rir! morrer de rir!
cair de rir! rir até cair!

O palhaço do palácio tem que
fazê-lo, pois, caso não o fizer...
"Deixe-o comer o quanto quiser!
Deixe-o comer até estourar!
Quero vê-lo bem gordo e forte!
Quero aplaudi-lo ao se juntar
aos leões na arena para lutar,
lutar e lutar até a morte!..."

O palhaço do palácio tem que
levantar a peteca do Rei,
pois, para Ele, rir ali é lei!

O palhaço do palácio tem que
ser um péssimo malabarista;
ser cauteloso, mas sarrista;
tomar cuidado com a piada...
- Não pode dar mancada.

O palhaço do palácio tem que
tocar banjo e inventar versos
dos mais hilariantes e perversos.
Mas sem ofender algum parente
querido de Sua Majestade. Creio
que o centurião o partirá ao meio
caso o Rei fique descontente.

O palhaço do palácio tem que
ter, na escolha, o direito,
mesmo que seja muito estreito.
"Mas o quê foi que eu fiz?"
E só então o centurião diz
: "Prefere no calabouço, calado?
Prefere na guilhotina, degolado?
Prefere a forca, após a farinha?
Ou jantar com os leões à tardinha?
- Vamos!, responda, covarde!
Sua hora chegará às 5 da tarde!"

O palhaço do palácio tem que
se sentir culpado por ter deixado
o reinado do Rei, arruinado!

O palhaço do palácio tem que
respeitar o centurião carrancudo
: a farda, a lança, as ordens, tudo!
E aguentar toda a humilhação
por um punhado de moedas e pão.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Numerologia




1973 - Emerson Fittipaldi
1983 - Nelson Piquet
1993 - Airton Senna

2003 - Rubinho Barrichelo
: pare de acreditar em numerologia

Notícias Amarelas são Páginas Populares

Um mendigo tatuado
ou apenas más notícias
em seus braços?
Jornal velho solta tinta.
Jornal molhado, o tempo esfarela.
Jornal quentinho é furo jornalístico
e cobertor.

No Ombro do Hombre


No ombro do hombre
a enxada faz a dança
No ombro do hombre
só a enxada nunca cansa

No ombro do hombre
ainda há esperança
No ombro do hombre
uma lágrima de criança

No ombro do hombre
um corte profundo
No ombro do hombre

todo o peso do mundo
No ombro do hombre
nada passa num segundo

Na Febre do Rato


Quem paga o pato


é de fato


feito de gato


e sapato


no ato.

Mural de Cheques Sem Fundos

batedor de punheta
batedor de bolo
batedor de carteira
batendo as botas no bem-vindo

puxador de fumo
que puxou cana
por puxar carro
chupa e assovia ao mesmo tempo

camisinha furada
pneu furado
papo furado
não valem um tostão furado

carta virada
é carta marcada
carta marcada
é só mais uma carta fora do baralho

beco sem saída
casa abandonada
terreno baldio
depósitos de carros e corpos

Fogo Morto Água Viva


Quer a nível nacional
Quer a nível mundial
A mesma joça
O homem humilde que colhe o que planta lá na roça
Não compreende o capetalismo e herda
O pensamento do pai que diz que Deus criou a Terra
Para todos e que não carece de guerra
Chora e reza enquanto tudo atola ainda mais na merda

Quer a nível nacional
Quer a nível mundial
A mesma joça
O homem do campo que sai do poço pra viver na poça
E o outro que sai de cena sai da seca com
A mesma cabeça do pai que diz que por bem ou por mal
Seu filho seria bem sucedido na capital
E que um dia traria a família pra viver no bem-bom

Quer a nível nacional
Quer a nível mundial
A mesma joça
O homem magro do sol do sertão vai direto pra fossa
Ele sai da terra rachada e cheia de sede
Pensamento positivo como o pai que crê que agora Deus
Vai ajudar seu filho para ajudar os seus
Chega enchente e arrasta barraco e o retirante na rede

sábado, 2 de janeiro de 2010

Merda Moderna

Sem poesia
nem filosofia,
sem religião
nem revolução,
sem política
nem titica.

Shakespeare tinha razão
: o que fode a Humanidade
são as relações humanas.

Mea Culpa

me falta fé
me falta um pé
me falta perna
e vida eterna
me faltam meias
e sangue nas veias
ma falta canudo
me falta tudo
me falta estrada
não me falta mais nada

me falta medo
me falta um dedo
me falta chão
me falta uma mão
me falta compasso
me falta braço
me falta luva
debaixo de chuva
me falta paz
que falta que ela me faz

me falta fôlego
me falta ego
me faltam rins
e pedras nos rins
me falta estômago
mágoa no âmago
me falta alma
me falta calma
me falta raiva
era só o que me faltava

Genéricos

made in korea
made in japan
made in china
made in taiwan
produzido na zona franca de manaus
pirata original
do paraguay
olhos abertos no oriente
arregalados no horizonte
da terra do sol nascente

Mãe Solteira

A Mãe Solteira tem três filhos,
um de cada pai:
pai desconhecido,
pai acoólatra,
pai foragido.

O primogênito
a sete palmos,
o do meio
apreciando sol quadrado
e o caçula
no bucho.

A Mãe Solteira tem três filhos,
um de cada pai,
todos estourando por aí.