Silêncio~Primal

Silêncio~Primal
Lendo...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Retrato Abstrato


Retorcido
feito cão e gato,

contorcido
feito gato e rato,

destorcido
feito gato e sapato

: dente indeciso
boceja um sorriso.

Literalmente

Céus!
meus poemas
são problemas
meus!
São maus,
são meus!
: sou eu!

Zero em Algarismo Romano

Quando você não faz diferença,
a menor diferença,
diferença nenhuma,
quem se importa?

: além da concorrência?!

Disputando isopor, caixa de papelão, jornal velho,
lata e saco de lixo, cabeça de boneca...
Disputando espaço à tapas,
socos, chutes e pontapés!

Parar de estudar para trabalhar!
Quem tem dinheiro
não tem tempo pra gastar.

Comer carne crua, carne viva, carne humana,
ser devorado por índios canibais
ou animais selvagens?

: domésticos!

O frio corta!
O seco racha!
Frio e seco
como os dentes e os olhos
devem ser
: homem branco perde os passos...

Tanto faz assim
como tanto fez.
Pouco importa. Quer dizer
: não importa.

É uma pena...
Sem problemas
: o fim é o que menos importa.

Pé de Chinelo


Canivete
ou caixote,
pivete
ou Pixote?

Fernando Ramos da Silva na pedra,
finado ramo na selva de pedra!

A rua é o refúgio do barraco!

Foi encontrado dentro de um saco
e maltratado em qualquer buraco.
Tinha o sonho de tocar cavaco
mas seu negócio era jogar taco.
Num dia de frio afanou um jaco
e na favela é chamado de macaco.
Fuma um bagulho do balacobaco
que torna o dia-a-dia menos opaco.
Pixote - essa é a lei do mais fraco
e vai muito além do mais fraco!

A rua é o refúgio do barraco!

Essa é a lei do mais fraco, Pixote,
e vai muito além do mais fraco
: traga a graxa e o caixote,
mano sem money no pote não dá.
Nada não dá
nada não dá
não dá.
Não dá em nada.

A rua é o refúgio!

Da favela pra Febem
o que é que tem? (não sei se tem)
se a periferia
é maioria!

O refúgio do barraco!

Laranja
pé de chinelo
só manja
do mercado paralelo.

A RU A RU A RU A RU A

Quem matou Pixote
foi o Hector Babenco!
Quem matou Pixote
foi a Marília Pêra!
Quem matou Pixote
foi todo o elenco
da sociedade brasileira!

Perda de Tempo

a vida cronometrada
da concepção ao último suspiro
o tempo nunca está
a nosso favor

a todo vapor

relógio de parede
no bolso
relógio de sol
no pulso
relógio de areia
a prova d'água
rádio-relógio de igreja
galo despertador

no relógio biológico
cheio de nove horas
noves fora nada
meio-dia pras quatro
em ponto

rugas de preocupação

relógio
sem ponteiro da hora
marca minuto
sem ponteiro do minuto
marca hora
sem ponteiro do segundo
encontro marcado

relógio digital
de algarismos romanos
bateria a pilha
relógio da hora

rola o rolex
ralou

relógio atrasado
relógio lento
relógio roubado
dinheiro ao vento
relógio parado
perda de tempo

Mendigo Bêbado

Pombas, pulgas e folhas secas!
Cães, chuvas e moleques sapecas!
O mendigo era médico.
O bêbado, bem de vida.
O mendigo bêbado, que foi rico,
não passa de uma ferida.

O mendigo tinha família.
O bêbado teve um lar.
O mendigo bêbado tem uma filha
que está para se casar.

O mendigo não tem sol.
O bêbado está cercado.
O mendigo bêbado preso no anzol
da sociedade do soldado.
Pombas, pulgas e folhas secas!
Cães, chuvas e moleques sapecas!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Idem Ibdem

Um dia é só um dia com sol ou sem sol
Um dia é só um dia sem lanterna ou farol
Um dia é só um dia é só um dia é só um dia
Ensimesmado na mesma pieguice

A família é a família quando tem dinheiro
A família é a família do bar ao puteiro
A família é a família é a família é a família
Ensimesmada na mesma velhice

A igreja é a igreja em nome do dízimo Amém
A igreja é a igreja Jerusalém Jesus Além
A igreja é a igreja é a igreja é a igreja
Ensimesmada na mesma chatice

A guerra é a guerra remapeando povoados
A guerra é a guerra condecorando aleijados
A guerra é a guerra é a guerra é a guerra
Ensimesmada na mesma imundície

O homem é o homem com sol ou sem sol
O homem é o homem sem lanterna ou farol
O homem é o homem é o homem é o homem
Ensimesmado na mesma mesmice

Formatura

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Eles batizam o eterno,
mas não tem nem como.
Eu abro o meu caderno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de blocos...
A caminho da fábrica de livros...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Blasfemam do inferno,
mas não tem nem como.
Estudo em semi-interno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de modos...
A caminho da fábrica de meninos...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Sugo o sangue materno,
mas não tem nem como.
Guio o carro paterno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de óculos...
A caminho da fábrica de mitos...

A culpa é do governo!
A culpa é do mordomo!
Bom é o mercado externo,
mas não tem nem como.
Mancharam o meu terno,
mas não sei bem como.
A caminho da fábrica de votos...
A caminho da fábrica de vivos...

De mortos-vivos!

Canibais


Almoço com o cão
faminto a meus pés.
Almoço com crianças e mendigos
dormindo nos bancos duros
da vida roubada.
Almoço com o gato sem botas
com as patinhas sangrando
sobre o muro de vidro
intencionado aos ladrões.
Almoço com amulher
de vida fácil? vida difícil!
comer o pão que o país amassou!
Almoço e não penso
que o fio condutor das guerras
só congestiona meu pequeno mundo
já pardo, cinza, sujo, podre, triste,
submundo da fumaça e do entulho,
repleto de ratos, insetos,
vermes e humanóides em geral.
Almoço com a secretária
sendo estuprada pelo patrão
em seu escritório, cheirando
a chantagem e perfume barato.
- Beijos e lágrimas!
Almoço com as centenas
de novas doenças dos cientistas.
Almoço com tudo, tudo lá fora,
tudo do lado de lá
das portas particulares.
Almoço com o pálido silêncio.
Almoço com o espião na janela.
Almoço com um pedacinho de cebola
entalado na minha garganta -
meu único pequeno caos.
Almoço e não lembro.
Almoço tranquilo
e adormeço macio
quando o sono vem.
E sonho gostoso...
Almoço cego
com os canibais!

Cartão-Postal


Bosta! Basta!
Bosta de cavalo!
Basta um nevoeiro
no Morro da Pinguela
pra confundirem com estrelas
as luzes dos barracos da favela.
Você já viu fumaça verde? Então tá!
Assassina aqui e há chacina lá!

Bosta! Basta!
Bosta de cavalo!
Basta só um cheiro
no Morro da Pinguela
pra neguinho ver estrelas
ficando muito louco por tabela.
Você já viu fumaça verde? Ra ra ra!
Há chacina aqui e assassina lá!

A Raspa do Tacho


Os homens dão as cartas.
Os homens voltam para casa.
Os homens fecham a cara.
Os homens vão à caça

enfileirados indianamente
no frigorífico mais próximo.
Carne humana é a fina nata
da mão de obra barata!

Eu só como carne de 2ª
e uso roupa de 2ª mão.
Eu só como carne na 2ª
e no resto da semana não.

Dependurado num gancho
de açougue pela goela,
eu sou a raspa do tacho
no fundo da panela.

Quadrado

o quadrado entrou no outro quadrado



o outro quadrado entrou no quadrado



o quadrado no outro entrou quadrado



entrou no quadrado o outro quadrado



quadrado quadrado quadrado quadrado

Extração


Ao Dr. Carlos Tsoden Ogusuku

Deite-se!

As portas do céu da boca são os dentes!

Por isso cuide bem para que elas,

da noite pro dia

ou numa tarde fria,

não virem janelas.

Eu Por Mim

Eu não combino comigo
Eu não pertenço a mim
Eu não vejo nada em mim
Eu sou o meu maior inimigo

Eu não caso comigo
Eu não preciso de mim
Eu não caibo mais em mim
Eu sou o meu próprio castigo

Eu não colaboro comigo
Eu não choro por mim
Eu não sou páreo para mim
Eu sou um modernista antigo

Eu não pareço comigo
Eu não esqueço de mim
Eu não transito em mim
Eu sou do tamanho do meu umbigo

Eu não sonho comigo
Eu não me escondo de mim
Eu não vivo sem mim
Eu sou um fantasma com vitiligo

Eu não durmo comigo
Eu não estou preso a mim
Eu não separo meu eu de mim
Eu sou o medo e o perigo

Eu não encaixo comigo
Eu não sou tarado por mim
Eu não piso em mim
Eu sou a sombra que sigo

Eu não misturo comigo
Eu não fujo de mim
Eu não me espelho em mim
Eu sou o que sou e nem ligo

Eu não convivo comigo
Eu não me sustento em mim
Eu não me perco de mim
Eu sou tudo o que eu digo

Eu não aprendo comigo
Eu não sou o oposto de mim
Eu não estou acima de mim
Eu sou o joio e o trigo

Escoteiros


Enquanto jovens festejam,
espantando os seus males
cantando livres na noite
sob vaga-lumes distantes
e diante de borrachudos
cobertos de guarda-chuvas
verdes,
formigas fazem um banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: organização faz parte
dos testes de sobrevivência
na mata escura.

Enquanto jovens festejam,
colhendo lenhas e gravetos
atentos com suas lanternas
nas entranhas da floresta
mas próximos às cabanas
cobertas de guarda-chuvas
verdes,
elas fazem um belo banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: solidariedade faz parte
dos testes de sobrevivência
na floresta fechada.

Enquanto jovens festejam,
soltando anjos e demônios
com suas vozes desafinadas
acompanhadas por violões
ao redor de uma fogueira
coberta de guarda-chuvas
verdes,
sozinhas bancam o banquete.
Acompanhamento
no acampamento
: perigos fazem parte
dos testes de sobrevivência
na selva misteriosa.

Boneca Partida

A menina rega o jardim do vestido
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Montanhas ao sul de mim..."
Janelas sem vistas,
portas sem passado...
Moça debruçada sem q nem porque
na janela escancarada!
Moça debruçada esperando parada
a porta se abrir.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

O céu é um cemitério de estrelas
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Pássaros se vão sem mim..."
Espelhos sem rostos,
tapetes sem passos...
Moça toda dada sem q nem porque
na janela desencantada!
Moça toda dada tão desesperada
não consegue rir.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

A estrela maior amarela a manhã
: cedo, tarde, noite, madrugada...
"Oceanos que saem de mim..."
Tetos sem luzes,
paredes sem retratos...
Moça mal amada sem q nem porque
na janela despedaçada!
Moça mal amada cansando calada
é pular pra sair.
Tanto sem sal
quanto nem açúcar!

Spleen

Jogue o meu corpo
numa vala ou no esgoto!
Jogue-o na privada!
Eu sei que eu sou um escroto!

Jogue o meu corpo
num bordel ou no lixão!
Jogue-o na calçada!
Eu sei que eu sou um cão!

Jogue o meu corpo
na Via Dutra ou dum viaduto!
Jogue-o da sacada!
Eu sei que eu sou um bruto!

Jogue o meu corpo
da janela do último andar!
Jogue-o da escada!
Eu sei que eu sou de lascar!

Jogue o meu corpo
num gancho de açougue!
Jogue-o à manada!
Eu não sou eu nada! Jogue!

Sábado de Aleluia

Aos corvos devorando
espantalho enforcado na árvore
é preciso ter um olho só
para sofrer menos
para doer menos
mas não é preciso ter dó
para doer menos
para sofrer menos

Choveu chove
e vai continuar chovendo
na vida tempestuosa
despedaçando nuvens
benzendo telhados
limpando toda a imundície do mundo
varrendo toda essa podridão
e lavando e esfregando e desinfetando
até arrancar o bicho da goiaba
que mora na maçã

Aos corvos devorando
espantalho enforcado na árvore
é preciso ser humano
PANOS QUENTES
é preciso sentir dor
PRATOS LIMPOS
é preciso lágrimas para chorar
PRATOS QUENTES PANOS LIMPOS

Requiem


Quando eu morrer
quero que queimem todos os meus escritos
em praça pública, caso eu for mais um.
Morto não sente mais dores.
Quando eu morrer
não quero flores e nem quero velas,
não em minhas roupas ou no meu caminho.
Morto não enxerga cores.

Quando eu morrer
quero que queimem todos os manuscritos
em casa mesmo, caso eu for famoso.
Morto não derrama lágrimas.
Quando eu morrer
não quero caixão e nem ser sepultado:
quero apenas o meu corpo atirado ao mar.
Morto não respira mais.

Quando eu morrer
não quero que paguem as minhas contas,
pois quem paga deve ser sempre o devedor.
Morto não deve um tostão.
Quando eu morrer
não quero que chorem no meu velório,
pois só se chora por dor ou por culpa.
Morto não pede perdão.

Caos & Efeito

transparência invisível
horizonte vertical
palavra indizível
silêncio primal

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

S.O.S.


Nem sempre uma vida simples é uma vida comum.
Nem sempre a maré-cheia dá marcha à ré
aos poucos.
Nem sempre sem pressa nenhuma.

Eu estou sem eira na beira de um rio que corre,
enquanto você me socorre
na outra margem.
Eu estou
sem eira na beira de um rio que passa,
enquanto você me ultrapassa
agora.

Nem sempre a ocasião propícia vem na hora certa.
Nem sempre navios chegam na outra margem.
Nem sempre
sem pressa nenhuma.

O mundo gira
e você prende a respiração.
Um dia o mundo pára
e você perde a respiração.

Fechado em Concha

Quando quero esquecer,
quando quero sonhar,
quando quero a noite e
quando não quero mais,
fecho minhas pérolas em concha
e não procuro saber
o que perdi.

Auto-retrato com cara de paisagem

O espelho é o oposto
do meu rosto.
O espelho
é o oposto de mim.
O espelho é o oposto de tudo.
O corvo
é o reflexo
da pomba
no espelho.

Nocaute em saco de pancada

Leve é um soco / fora de foco
Nenhuma norma / fora de forma
Longe daqui / fora de si
De papo pro ar / fora do lugar
Roubando esmola
Fugindo à luta
Não me amola
Filho da fruta
Fodido da vida / beco sem saída
De sangue quente a sangue-frio

No meio do jogo / a prova de fogo
Perdendo a fala / a prova de bala
Guardando mágoa / a prova d'água
Bagulho do bom / a prova de som
Guia de cego
Chutando o balde
Faltando fôlego
Segundo round
Valendo a pena / sair de cena
De sangue quente a sangue-frio

Chuva de vaia / tiro de raia
Direto de direita / tiro que deita
Já pro chuveiro / tiro certeiro
Passa amanhã / tiro na maçã
Pedindo aplauso
Todo à vontade
Contando causo
Só na saudade
Macaco ou Adão / parece armação
De sangue quente a sangue-frio

Preso na rede / morra de sede
Sem sobrenome / morra de fome
Faltando fé / morra em pé
Dia de sorte / morra por esporte
Caindo no R$
Correndo atrás
Passando mal
Descanse em paz
Fazendo figa / comendo formiga
De sangue quente a sangue-frio

Maria Gasolina

Cuidado com o cão
que envenena o motor
pra pisar no acelerador
e que beija o espelho
e passa o farol vermelho
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que rasga o asfalto
com o ego lá no alto
e que queima borracha
mas não cheira à graxa
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que canta pneus
brincando de Deus
e que foge do flanelinha
da polícia e do trombadinha
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que dribla a multa
(porém pague a puta)
e que atropela na calçada
e nunca pega nada
por estar com a razão na mão.

Cuidado com o cão
que estupra e cresce
- ou dá ou desce! -
e que só sai à milhão
ultrapassando na contramão
por estar sempre com a razão na mão.

Latin Tupiniquim

Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos fundos.
Não me prendo a margens
escrevo nos muros da cidade
às escuras!
Não se aprende com a idade -
sirenes são imagens/miragens
de viaturas!
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos escuros.
O homem da pedra lascada
com tesouros da arqueologia
sem data.
O jovem com a vida lascada
e os mistérios da filosofia
barata.
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos sujos.
Peneirando pedras preciosas
e a história toda estoura
: 3, 2, um...
Apedrejando perdas gloriosas,
alguém passa a vassoura
e: BUM!
Passando tudo a limpo
- de geração a geração -
em pratos confusos.
Pelas paredes, o pedestre
matando cachorro a grito
agora chora.
Sem canudo nem gabarito,
o aprendiz matou o mestre
antes da hora.

Poção Mágica

O amor é cego
Asas de morcego
O amor arranha
Patas de aranha
O amor é tutu
Bico de urubu
O amor na mão
Dentes de tubarão
O amor soçobra
Chocalho de cobra
O amor é sexo
E o resto da sobra que segue em anexo

O amor na veia
Óleo de baleia
O amor na mesma
Antenas de lesma
O amor nasce sol
Casa de caracol
O amor é só papo
Veneno de sapo
O amor é abstrato
Sola de sapato
O amor em tese
Feto conservado em compota de maionese

Vassoura no caldeirão
Mexa em sentido anti-horário
E beba de um só gole esta poção
Pois pouco importa a lua
Pois ela será sua
Assim que aumentar seu salário

Inédito Hoje


"A televisão matou a janela."

Nelson Rodrigues

Saio da janela e ligo a tevê

Novela rural

Mudo de canal

Comercial

Mudo de canal

Programa musical

Mudo de canal

Entrevista banal

Mudo de canal

Infantil fecal

Mudo de canal

Mapa astral

Mudo de canal

Telejornal

Mudo de canal

Hino Nacional

Mudo de canal

Mundo animal

Desligo a tevê e volto à janela

Fastfood-se


Bom dia!
Qual é o seu pedido?
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Mc WC,
Mc marmita,
Mc x, Mc shit,
Mc pão com ovo & fritas!

Boa tarde!
Faça o seu pedido!
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Sunday de sangue!
Sunday de coco-late!
Coca-Cólica SEMPRE Coca-Cólica!

Próximo!
Benito Mussarela rangando pizza de mussollini
& cachorro-quente (hot-vale)
perseguindo
churrasquinho-de-gato-grego-grelhado
num desenho desanimado...

Espírito Periférico

vende-se aluga-se troca-se

vende-se à vista
vende-se a prazo
a perder de vista
ou a longo prazo
a alma por uma pataca

aluga-se um cômodo
tão incômodo
quanto um parto
aluga-se um quarto
da alma
porque a carne é fraca

troca-se
troca-troca
troca-se
a alma por uma maca

compre grátis
e preste atenção
na prestação

se aceita ticket
tique nervoso
se aceita cheque
xeque-mate
se aceita vale
vale encantado
se aceita cartão
cartão descrédito
se aceita passe
passe bem

vende-se aluga-se troca-se
a alma não vale nhaca

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cada Dedo

CADA
DEDO
QUAS
ECOL
ADOD
OLAD
ODOO
UTRO

As Cores

O antônimo de preto
é branco. O antônimo
de rosa, azul. E o de verde,
maduro.

Silogismo

O cão é o melhor amigo do homem.
O cão não gosta do carteiro, logo
o carteiro não é homem.

A Lágrima

A lágrima que desce com o olho
O olho que desce com a lágrima
que desce com o olho
que desce com a lágrima

que desce
que desce

E que cai a cara e come o corpo
E que vai a cara e move o corpo
E que sai a cara e some o

E que a sede que ainda insiste
E que a fome que nunca desiste
que acabe
que cesse

sem porém
porém sem

a pedra e o podre

E que a sede
E que a fome

Rachesequerachesequeracheseque

A Mosca

A mosca tem várias visões do mundo:
eu que não alcanço o seu ponto de vista.
E nem a avisto quando ela pisa fundo
e eu perco fácil fácil a sua pista.

Foda-se!

Muitos têm pouco
e poucos têm muito.

Eu não estou aqui por brincadeira.
Eu não estou brincando.
Eu não estou não.
Eu não estou.
Eu não estou aqui.

Foda-se que se foda o mundo!
Eu não tenho chance,
meu grito não tem alcance.
Foda-se que se foda tudo!
Eu não tenho chance,
meu grito não tem alcance.
Foda-se que se foda!

Muitos têm pouco
e poucos têm muito.

E eu não estou aqui por brincadeira.

Sal na Lesma

A lesma passeia
construindo sua estrada
de diamantes
enquanto o encanto
inicial se esvai
no ralo sujo da memória.

Um Sol Para Cada Montanha

para meu irmão
Eu não queria precisar
de moedas e medalhas.
Eu só queria precisar
de uma vida sem migalhas.
Eu só queria precisar
de uma vida
devida-
mente dividida
: uma árvore como casa
(da madeira faz-se a brasa!),
ossos como ferramentas,
folhas e gravetos como teto,
couro de animais como vestimentas
e um filho que me destinasse um neto.
Animal, mineral, vegetal
nunca iam faltar.
Eu só queria um lugar!
Eu só queria precisar
de mais nada.
Eu não queria precisar.
Eu só queria precisar...
Além do mundo,
de uma sacada,
além de tudo
e mais nada.

Fábula Verídica

Era uma vez
até que um dia
todos viveram felizes para sempre.

Abra a Janela


para Lene

O sol quer entrar!
Quer entrar mas você pensa
que ainda não é o momento...
Você é quem faz o momento!
Faz o momento e
transforma a vida e
transforma o mundo e
tudo o mais,
trazendo o que os olhos não podem ver
ao alcance de suas mãos.