Não quero reclamar um poema
que desperdíce lágrimas.
Não posso declamar um poema
com derramamento de sangue.
Lugar de lixo é nas caixas do correio!
O mundo já não é mais
povoado por flores e borboletas multicoloridas
no jardim de uma linda camponesinha
com seu vestido rodado e florido,
chapéu de abas longas para a primavera
e leves sandálias, dançando inocentes cantigas de roda,
a balançar uma cesta de frutas
na colina verde do vale encantado...
O mundo é que não é mais
povoado por borboletas e flores muiticolores
naquele jardim daquela camponesinha
agora com seu vestido rasgado e curtido,
o chapéu usado como penico de soldado,
as gastas sandálias e ingênuas cantigas de roda aborrecidas,
assim como a cesta de bagaços
na área minada do campo de batalha.
Impossível poesia pós-Holocausto?
Então toma!
Cabeça de bagre
esperando um milagre.
Cabeça de vento
livre de pensamento.
Cabeça de anjo
de boca no marmanjo.
Cérebro de formiga
: estamos quitestamos quites.
Cérebro de macaco
: estamos quitestamos quites.
Cérebros abortados
: sanduíches de Auschwitz.
Sangue nas palavras,
sangue nas cartas,
sangue nos olhos,
sangue de barata e mais sangue
escorrendo pelos cantos da boca e pelo nariz,
saindo por todos os poros e de olhos calados pelo choro,
de suas unhas cheias de terra e de merda
e de suas mãozinhas marcadas pelo desespero.
Olhos vendados para hinos patrióticos
de cães de guerra e manifestações.
Agora ela é só mais um ventre sujo...
- A morte liberta, criança!
Mas depois da tempestade vem a ambulância
e um refugiado que, ao vê-la caída, gemendo,
limpa abostadabota em seu rosto e segue
mancando/ marchando! manchando...
JOVEM
ao completar 18 anos
aliste-se e aprenda
camaradagem, disciplina e respeito
para obter licença para matar
crianças e estuprar mulheres
em caso de guerra ou levante civil.
A fauna aflora e a gente tenta, tenta,
tenta à vontade,
mas a poesia nunca será mais violenta
que a realidade.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
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